A Garganta da Serpente

Andityas Soares de Moura

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CONTRAPUNCTUS

I - ALFAZEMA

Sensíveis hálitos
de cigarrilhas
empoeiradas

copos vazios
brilhando

               tuas ansiedades
               juntas, dentro
               de conservas
               de amora

Ainda uma imagem
a lavar o matiz
   fundo da tarde
             o jovem semeeiro
caminha entre os
túmulos

    a plantação de tomates
    se contorce de frio

 

II - CÂNHAMO

Por este pântano, por estas sendas
o brutal amanhecer
de guelras bem abertas
                        híbridas

                        dentro de meu
                        sapato, a fotografia
                        dos cabelos dela,
                        fio a fio

Ainda aguardaremos o dia quente :

deito ao lado de teus
                        sonhos,
      que despertaram
      com o barulho
      das patas
           de um doce pã

 

III - DIGO-TE, POR QUE ENCARNAR AS ESTRELAS ?

Digo-te, por que encarnar as estrelas ?
Não basta o imoderado remorso
das primeiras horas do amanhecer ?
      valeria o céu e o mar inteiro
      o gosto sórdido de uma
      lembrança afogada
                  como criança monstruosa ?

conchas espessas
crescem ao redor
de teus seios

                espíritos em cada
                guarda-chuva
                impedem a
                tão aguardada
                apalpadela
                        na nuca

ainda assim,
insisto :
     sem roupas íntimas
     por baixo do
     vestido novo

 

IV - OLIVEIRA

a entrega amena
do último trigo deste
                        verão

soluça com gosto, senhorinha !

o cão peludo
dormiu entre a fogueira dos
ciganos e a menina louca

soluça com gosto, senhorinha !

Vendem ameixas amarelas
e suculentas no mercado
o barbeiro diz que são
envenenadas

soluça com gosto, senhorinha !

 

V - MODINHA

aguardo o trem
chapéu na mão
sapato polido tal qual ferradura
terno alinhado, polainas
e um girassol
na lapela

tua memória
escorre
nos banhos quentes
                         de Tebas

cada gota
  é uma
sede nova

                pausa
pernas                    os relógios
nem                        nadam em
longas                     nossos pulsos,
nem                        e desaparecem
curtas                     quando realmente
terminam                desejamos
em
finos
pés
de
cristal       de cristal       cristal

(Poemas do livro "Lentus in Umbra")


(Andityas Soares de Moura)


voltar última atualização: 02/09/2010
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