CONTRAPUNCTUS
I - ALFAZEMA
Sensíveis hálitos
de cigarrilhas
empoeiradas
copos vazios
brilhando
tuas ansiedades
juntas, dentro
de conservas
de amora
Ainda uma imagem
a lavar o matiz
fundo da tarde
o jovem semeeiro
caminha entre os
túmulos
a plantação de tomates
se contorce de frio
II - CÂNHAMO
Por este pântano, por estas sendas
o brutal amanhecer
de guelras bem abertas
híbridas
dentro de meu
sapato, a fotografia
dos cabelos dela,
fio a fio
Ainda aguardaremos o dia quente :
deito ao lado de teus
sonhos,
que despertaram
com o barulho
das patas
de um doce pã
III - DIGO-TE, POR QUE ENCARNAR AS ESTRELAS ?
Digo-te, por que encarnar as estrelas ?
Não basta o imoderado remorso
das primeiras horas do amanhecer ?
valeria o céu e o mar inteiro
o gosto sórdido de uma
lembrança afogada
como
criança monstruosa ?
conchas espessas
crescem ao redor
de teus seios
espíritos
em cada
guarda-chuva
impedem
a
tão
aguardada
apalpadela
na
nuca
ainda assim,
insisto :
sem roupas íntimas
por baixo do
vestido novo
IV - OLIVEIRA
a entrega amena
do último trigo deste
verão
soluça com gosto, senhorinha !
o cão peludo
dormiu entre a fogueira dos
ciganos e a menina louca
soluça com gosto, senhorinha !
Vendem ameixas amarelas
e suculentas no mercado
o barbeiro diz que são
envenenadas
soluça com gosto, senhorinha !
V - MODINHA
aguardo o trem
chapéu na mão
sapato polido tal qual ferradura
terno alinhado, polainas
e um girassol
na lapela
tua memória
escorre
nos banhos quentes
de
Tebas
cada gota
é uma
sede nova
pausa
pernas
os relógios
nem
nadam em
longas
nossos pulsos,
nem
e desaparecem
curtas
quando realmente
terminam desejamos
em
finos
pés
de
cristal de cristal
cristal
(Poemas do livro "Lentus in Umbra")
(Andityas Soares de Moura)
|