A Garganta da Serpente

Anderson Souza Oliveira

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Câmera da libertação

Ele queria sentir a sensação de um afogamento;
pôs toda a sua face sob a água, que caía do chuveiro.

Por alguns segundos deixou-se afogar. Suas narinas começaram a se
encherem de água, o ar não mais entrava; sua boca começara a se
tornar um precipício alagado, o ar não mais entrava, pois também
respirava pela boca: mais pela boca.

Flashes; reminiscências: fictícias e não-fictícias.
-- Manter-se! Man (tosse) ter-se! (tosse, tosse).
Líquido que saía de suas narinas (tosse); saliva que lhe escorria da boca.
No seu olhar: lágrimas; numa linha líquida, seja transparente, amarelada;
seja vermelha. No braço esquerdo o lema que lhe coroe; é mais que
luta, é toda a sua coerção interior, toda a sua procura do ser: ser em si, ser noutro - ser em si.

Nas suas narinas o cheiro da liberdade, do fim.
Na sua boca o gosto do grito; igualdade!
No seu olhar... No seu olhar para o espelho, eu, eu em fragilidade e,
na busca da indiferença para a diferença.


(Anderson Souza Oliveira)


voltar última atualização: 02/03/2010
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