Daqui do alto eu vejo,
o que muitos lá debaixo não vêem, ou fingem não ver.
Daqui do alto eu vejo! Vejo, corpos, balas, fraudes, merdas ambulantes,
corpos cândidos e, outros nem tanto, corpos à custa da determinação,
interesses burgueses à custa de vidas.
Daqui do alto eu vejo,
não estou lá embaixo, mas vejo daqui do alto, o alto grau de desigualdades,
o alto grau de alienação, o alto grau de fascistas vis, desditosos
alienados, no porvir estes mesmos virão.
Daqui do alto eu vejo, daqui do alto eu grito, daqui do alto me calo,
daqui do alto conclamo, daqui do alto desconverso, defronte a inércia
adrede.
Daqui do alto eu vejo, daqui do alto, no meu ínfimo microcosmo,
Adjacente e longínquo microcosmo, segregado do outro microcosmo.
Daqui do alto, de lá debaixo, daqui do alto, de lá debaixo,
daqui debaixo, para acima, é uma brisa, é um vento, é um
mar, um lagamar,
que nos separam, que nos alienam mais e mais, que nos dividem, estratifica ainda
mais, é isso que eles querem, é isso não me iludo,
seus esforços são hipócritas,
suas vidas são vis, suas falas improfícuas, seu sistema conivente,
a plenitude do nada, o nada disperso, a vida vazia, o horizonte obscuro, o sol
circular é o orifício de um cano, minha vida daqui de cima, junto
ao hipócrita ente transcendente, daqui do alto, minha vida num pente,
minha vida num pau-a-pique, minha vida, que não vivo, nessas linhas infindáveis,
nesses brados implacáveis, nessas linhas, nesses versos insípidos,
neste instante eternizado.
JAZ UM CORPO, daqui de cima, de lá debaixo, debaixo do limo,
acima dos prédios, umas sim outras não, todas daqui do alto eu
vejo.
(Anderson Souza Oliveira)
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