Silêncio
(Pensando em Billie Holliday)
Encontro árvores
Centenárias
Roubando a luz
Que não me chega mais
Bem aqui, na cabeça.
Corpos pendem, como frutas
Estranhas frutas
Fossilizadas
Pela memória
Que escapa entre dedos.
Sacudo árvores
Solenes, imóveis
Na esperança
Tola e vã,
De rever o azul.
Folhas poucas
Premiam o esforço
Despencam como neve
Resvalam na face
Incrédula
E se vão na brisa.
Ficam a impotência,
O medo,
A ausência do depois
E a desserventia
Da alma aturdida.
Água benta dos olhos
Sulca a essência
Arde no peito
E um eco surdo
Se faz resposta.
Nenhum sorriso
Ou olhar
Ou gemido
Ou palavra
Cai da árvore.
(Anderson Fabiano)
|