Escuridão
Preciso saber
Onde termina o homem
E começa o poeta.
Onde a víscera cede lugar
A essência.
Como o talho que me fere
Não sangra na carne
Mas nos atalhos dos meus abismos.
Preciso saber
Onde a palavra
Vira poesia,
Onde o pranto vira aplauso,
Como invado almas alheias
De gente, que ri e chora
Com meus segredos revelados.
Preciso saber
Como o pensamento ganha forma,
Interpreta-se e se faz letras.
Como as paixões ganham corpo
Avassalam-me, me agigantam
E depois, me destroem
E corrompem os amantes.
Preciso saber
Como se transforma
Lágrimas cúmplices que dôo
Em cristais,
Que você transmuta em diamantes
Para adornar seu corpo
Em deleite de outros de mim
Preciso saber
Onde fica o norte das paixões.
Se longe ou perto da morte da inocência.
Ou se tem cara de cais buscado,
De colo perene,
De corpo derradeiro.
Preciso saber quem sou,
Se valho a pena
E o que faço aqui,
Tateando no nada,
Em busca da mão, que tolamente,
Insiste em se fazer ausente.
(Anderson Fabiano)
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