A Garganta da Serpente

Anderson Fabiano

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Ode a melhor amante

Olhos de jade
Confessam uma lágrima
Que emoldura o sorriso
Que confessa a saudade da partida.
Com a boca que beija e lambe
E suga e revela segredos
Que o peito arfante
Tenta negar.

Seios próprios, indecentes
De róseos mamilos,
Tesos e pedintes
Encimam o ventre arqueado e profano.
Cheiros mesclados,
Na saliva almiscarada da devassidão
Da troca de essências.

Pernas abandonadas,
Misturadas, desatentas e lambuzadas
Entregues ao que sobrou do prazer.
Narina de potra
Que arqueja louca
No louco prenúncio
Do próximo gozo.

Gemidos surdos,
Confessionais, abafados
No travesseiro do lado.
Pequenos escândalos
Que permitem a cama solene.

Fios d'ouro anelados restam deitados
Nos lençóis em desalinho.
Silenciosa denúncia
Da doma incompleta
Da indômita fêmea xucra.

Uma porta se abre e revela seu templo
Sacro e desejado.
E por uns pares de horas
Somos egoístas e ímpares
Como verdades contidas entre parentes.

Pele, branca pele
Escondida do Sol,
Lanhada por dentes,
Unhas, barbas gris,
Na busca insana
Do prazer desmedido
Que nos doamos.

Sanhas esvoaçam
No perímetro
Do leito sem limites,
Sem tempo e sem razão.
Limites vãos,
Corrompidos pelo delírio
Que antecede a paixão
De seres únicos.
Reféns confessos
De uma loucura consentida.

Verdades lançadas,
Cínicas e cúmplices, aos ares,
Como gritos ocos
De amantes sedentos
Ávidos dos toques
Que só as letras viveram.

...e traduziram para (apenas) um homem e uma mulher.


(Anderson Fabiano)


voltar última atualização: 31/03/2009
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