A Garganta da Serpente

Anderson Del Angelus

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LASCÍVIA

Os sudários fremem com a brisa a adentrar as persianas,
Aquecendo-os nas trempes com as caldeiras negras;
Dentre as caldeiras, plantas e flores, num aroma mágico,
As vestias úmidas pelas poções transluziam alvas sedas.
Insinuando os sinuosos corpos róseos das damas;
Jovens felizes com lindas açucenas nas cabeças...
Faltara pouco para as meninas tornarem-se amas,
E num rito de amor, despirem-se ao luar para que o anjo padeça.
Dentre o vergel altivo as peles brilham mais,
Sob a lua tão cheia, que almeja ser mulher;
E o círculo místico torna-se a arena dos encantos,
Levando os errôneos patriarcas aos prantos.
Nos toques mais belos do amar,
Nas bocas intumescidas a calar,
E colarem-se, fazendo a pira queimar...
O círculo purifica o sangue inquisitivo.
E as crianças amadurecem em sibilas
Aos olhos do oráculo Selene, perfeição divina,
Filha da noite e do dia, com os olhos safira o mar das santas ilhas.
Ela reina ao centro, e colhe cada menina.
A última será a escolhida, a dona dos rumos,
Dando vida, a vida da noite;
No fremir das mandoras, vanescem-se os açoites,
As harpas cantam, e as fadas inundam o chão com húmus.
Nos suspiros do jorrar das águas, como se soubessem;
Oráculo inicia e acolhe o santo fruto,
Tão doce, que até os deuses por inveja chamam o luto.
E o ósculo é dado, e pelas águas os corpos descem.
Na dança dos corpos, tudo é infinito,
Os seios um só seio,
As bocas uma boca,
E o sexo, é único e mais bonito...
- Mas o que é permitido? O desejo é latente...
Assim os pássaros renascem e as flores vêm veementes;
E nada existe, senão as lembranças,
Sonhos vãos das ninfas, que dormiram crianças.


(Anderson Del Angelus)


voltar última atualização: 10/08/2007
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