CASULO
Por uns tempos,
deixei de ser borboleta
e aconcheguei-me num casulo:
numa sede, numa sala,
e enredei-me em cartas,
atas e memorandos.
Por uns tempos,
deixei meus versos,
e, envolvido por nobre causa,
tornei-me burocrata,
acorrentado por concursos,
posses , conselhos,
homenagens e discursos.
Por uns tempos
deixei meus sonhos,
ideais e visões surreais,
para viver o de outros que por ali passaram.
E, assim, conheci pessoas,
Quixotes, heróis e heroínas,
mas também crápulas, víboras e traidores
em busca do poder pelo poder a todo custo,
maculando a própria alma,
instigando e conspirando pelos corredores.
Por uns tempos,
tentaram volatilizar minha alma,
torcer minhas intenções e palavras,
confundir minhas competências,
vender-me demônios como se fossem anjos,
justificar com paradoxos as ausências,
confundir meus pares mais idosos,
utilizando artifícios infernais,
e, pelo voto torto, alcançar a fama,
aparecendo em destaque nos jornais.
Por uns tempos,
após caminhar por vales tenebrosos,
voltarei a ser borboleta pelos vales verdejantes
em contato com flores, versos, música.
Tendo nas mãos a taça transbordante do dever cumprido,
escreverei versos, trocarei e-mails com amigos:
Minha família me abrigará, ouvirei musas,
abraçarei irmãos e sórores
que encontrar pelos caminhos justos,
e, em paz com minha consciência,
nada mais me faltará.
(Antônio Carlos Tórtoro)