A Garganta da Serpente

Antônio Carlos Tórtoro

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EXPLOSÃO DE VIDA

Concentração de forças, de energia vital,
de vontade, de garra.
Muita massa, pouco espaço,
Irrefreável, a vida explode, se amarra
na avenida, durante o Carnaval,
sob fleches em algazarra.

Fogos, suor, lágrimas, alegrias
de uma grande explosão inicial
cujos ecos vão eclodir
por eternos minutos, horas , dias.
O som invade a alma, lava incandescente.
O coração acompanha o ritmo frenético:
O sangue ferve e o surdo se repete,
insistentemente.

No mar de cores e plumas,
paetês , alas e espumas,
as ondas trazem histórias , mitos,
lendas, águias, castelos,
embalados no repenique.
E levam seios, nádegas, sexos,
espelhos, brilhos, emoções.
As imagens se sucedem
indo do luxo ao lixo
no prolixo de alegorias, carros,
adereços e cores em profusões.

E, como na vida,
a tudo recobre a magia
que transmuta tristezas, pesadelos e dramas humanos
em festa, sorrisos, êxtase.
Nas mãos dos alquimistas do samba,
a ínfima, porém sublime existência
aproxima-se da apoteose:
o sonho vivido está no fim.
O vôo das câmeras por todo lado
permite rever o que passou na sua essência,
e, como o moribundo, revê-se o passado.

A cuíca geme o último gemido,
a baiana pára de girar, e o sambista de gingar,
e, no mausoléu de restos
de fantasias, esperanças e energias
em que se transforma a passarela no final,
beijo o estandarte de uma escola,
mentalizo o desejo,
de, após as cinzas,
ver o renascer de um outro Carnaval.


(Antônio Carlos Tórtoro)


voltar última atualização: 07/08/2007
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