A Garganta da Serpente

Ana de Sousa

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toco

desprende-se de meu corpo a arritmia das voláteis simulações do toque,
pedi que partisse e que só regressasse se de ti trouxesse o cheiro da pele
ou a sua maciez,
soro para o desfalecimento em que incorro,
agora que a minha se descolora pela ausência de teu calor.
vem, não respiro...

aos soluços,
os degraus deitam-se sob os meus pés,
que instante a instante os percorrem, descendo ou subindo,
como queira a sombra da sôfrega madrugada
que em frémito fulgor me empurra, e me desnuda,
saciando o desejo de brancura de minha pele,
translúcida vertigem das sombras
e dos passantes segredos.

ouço-os:
os meus lentos e fecundos passos,
e ouço-os,
os degraus, trémulos e inseguros,
(e os segredos!)
ouço-os,
invadindo de cor muda as paredes de cristais
onde se formam pinturas de desejos e loucuras,
azulejo de meu corpo que ofereço
à Lua!

nua desperto no tecido húmido dos sonhos.

no exíguo espaço que me separa do espelho
permanecem os meus passos,
ouço-os partindo,
no voo da cintilante poeira em contraluz.


(Ana de Sousa)


voltar última atualização: 08/03/2005
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