FÊNIX
A gota era o tédio
e uma pomba estúpida e manca
precipitou-se sobre ela,
uma pomba-cuco exangüe,
sorveu-a milimétrica,
essa gota de sangue.
A gota era o escarro
de um poeta
torpe, nu e demente
e esse escarro ulcerado,
desprezado pela boca doente
foi salvar a pomba exangüe,
deu vida ao membro dormente.
E ela alçou vôo,
indo unir-se a outras tantas...
Numa triste agonia,
o poeta resta só
e olha, senão por instante,
o pássaro que partia,
mas o sol ofusca-lhe os olhos
por olhar assim tão distante.
(Ana Maria Ramiro)
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