A Garganta da Serpente

Américo Elísio

pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva
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O Brasil

(A Sua Majestade o Senhor D. João VI
No faustíssimo dia 13 de maio de 1820)

Que é isto, ó musas? porque a lira empunho,
A lira, que ao silêncio consagrara?
De novo os lábios não molhei nas águas
De Aganippe e Castalia! no Parnaso
Não dormi, nem sonhei! Porque estro santo
Me inflama a mente de apolíneo fogo?
Mas eu já vejo o númen que m'o acende.
És tu, ó bom João: teus são meus versos;
Gratidão m'os bafeja, a pátria os pede.
E tu, João Augusto, ouve estes versos,
Que o Brasil me arrancou do esperto peito;
E lança um volver de olhos piedoso
De amor paterno sobre a nova China
Que teus Lusos povoam, fértil, rica;
Sobre tudo o que vê o sol dourado,
Quando nasce e se põe! Teu é inteiro,
Desde o longo Pará ao largo Prata
Este imenso país, mimo do Céu,
Que deve merecer-te amplos cuidados.

Não te enganem com vil hipocrisia
Astutos cortezões, sombrios bonzos,
E os que nos moles vícios ser afetam
"Albuquerques terríveis, Castros fortes,
Em quem poder porém já tem a morte."
Mas em torno de ti te adejem brandas,
Filhas do Céu! verdade, sã justiça,
Meiga e cândida paz, risonha Flora,
Ceres, Pomona, os silfos benfazejos
Que os tesouros te abram, entranhados
Nas vastas serras, nas impérvias matas.
Ilumina teus povos; dá socorro,
Pronto e seguro, ao índio tosco, ao negro,
Ao pobre desvalido. - Então riqueza
Teus cofres encherá. O mar inchado
Verás manso acamar-se, como outrora,
De novos Argonautas ante as proas:

Verás o gênio da gentil botânica,
A quem a benfeitora medicina
Corteja, e acompanha a agricultura,
A coroa enramar-te de mil louros:
A criadora química escoltada
Das artes todas, verás o rico seio
Revasar sobre ti, sobre teus povos,
Dos tesouros que o pátrio solo encerra.
Mas hoje justo é que te ofereça
A nova Lusitânia agradecida
Grinaldas mil de imarcescíveis flores,
Que amor e lealdade te hão tecido.
De jovens e donzelas coros cento
Com ledos hinos seus troarão os ares;
E bendizem-te hoje, ó rei augusto,
Porque comércio e indústria tu lhes abres;
Tu lhes dás novas leis e novos foros:
Tu lhes ensinarás a arar a terra,
Os rios navegar, rasgar os serros;
Porque despedaçando vais benigno
A imunda vestidura da pobreza;
E de brutos farás homens e heróis!

(in Poesias de Américo Elísio - Fonte: Brasiliana Digital USP)

Américo Elísio (José Bonifácio de Andrada e Silva)


voltar última atualização: 30/05/2017
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