A Garganta da Serpente

Alzira Lima

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ESCURIDÃO

A noite me fundamenta e o seu eco escuro plana
na plenitude de uma dor.
Deixei de ser.
Esqueci de querer o que queria e nem sequer sabia ou sentia
o que a penumbra calada escondia.
A noite demorou.e o seu esplendor inquieto
emudeceu todas as minhas cores
O arco-íris (que outrora conheci) levitou
e a dor que do meu ser deixou de doer
respirou o ar impuro e expirou.
Contudo, voltou.
Quem era? Quem fui? Quem sou?
O que jamais serei ou terei.
Consciência nesta minha aura de ausência.
Gritos abafados e inutilidade do que não me consinto.
E escondo-me de mim.naquilo que não quero que leiam.
Simples caminhar, náufraga de uma vida.
Absurda, penso no porque de estar.
.e não concebo uma única verdade
Verdade única de saber aprender a estar,
sendo na senda de tudo o que me obrigo a não sentir.
Não me entendo.
e contudo, me procuro na procura que todos os dias te faço.
Ainda não sei ser mais do que eu sou.
Escondo o meu esconderijo,
e confesso a minha covardia de lutar,
enterrando-me em falsos momentos,
em dúvidas sentidas e vividas.porém comedidas.
Que comedida sou naquilo que me sinto!
Que ignorância, a de não ter medo de perder o que me pertenço,
de te doar conscientemente o que te quero, o que me sou.
Que espelho me reflecte esta alma dispersa?
A noite adormeceu.
Eu mortifiquei o avesso da presença
.e deixei de ser o que nunca consegui manter.


(Alzira Lima)


voltar última atualização: 14/07/2008
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