As folhasAs folhas estavam lá, como ela desejava e suspeitava. Pousadas na plenitude
de um descanso sereno. Folhas imunes à violência e às tragédias
pessoais. Folhas cúmplices no contrato da harmonia silente. No interior
de cada uma delas, o eco sussurrado do mistério da espera. Elas a esperavam.
Estavam preparadas para acolher o peso corporal dessa mulher quente, úmida
e aturdida. Ela as procurou, rezando para que estivessem lá, compondo
solícitas o pálio de seu renascimento. Ela encontrou as folhas.
Chegou arfante, numa correria desequilibrada e quase que se joga. Com o consentimento
do destino, que só isso a ela permitira, caminhou cuidadosa por sobre
as folhas, iniciando com os pés a melodia ritual da entrega. Sentou-se,
deitou. Entregou os ouvidos aos cuidados das folhas, e os olhos molhados ao
convite dos galhos acima, que sábios, ofereciam-lhe as alternativas do
tempo nos contornos de sua estrutura. Ali, ela poderia crescer. (Aline Aimée) |