A Garganta da Serpente

Aléxis da Fontoura Kirsch Freixo

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DUAS FILHAS

Interado agora da mentira do meu ser
tachado de louco ou insano :
o menino cego que queria ver
é por isso um homem

Vagando nauseabundo, caído num canto,
vestido em trapos de alma e alcool
mesmo assim o menino não perde o encanto :
ajeita os cabelos, agarra a garrafa e sai andando.

O cheiro azedo que sai de suas vestes já não interessa,
ele mesmo não sabe,
Já perdeu a consciencia, e assim, também perdeu a pressa.
fugiu do hospício, há três anos, em um fim de tarde
com quarenta e sete quilos de osso e carne,
e viu a insanidade esparramar-se á vontade
correndo em suas veias, tomando-lhe a liberdade.
Ele mesmo não se lembra da verdade.

E rasteja trocando as pernas
em busca da única realidade :
a garrafa de aguardente,
única companheira, em teus braços : inseparáveis

e viveu até os trinta,
de bebedeira e briga,
esmolando sua comida,
chamando o fim da vida.
sem cerimônia, até que um dia.
abraçado a uma rapariga,
chamas em sua barriga,.
desencarnou, bebado e com duas filhas.


(Aléxis da Fontoura Kirsch Freixo)


voltar última atualização: 16/07/2001
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