A Garganta da Serpente

Alberto Velasquez

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Fútil

Ontem fui fútil. Ontem fui o que quiseste.
Útil na razão que se vendia a troco de um corpo que se desprendia
Da roupa que desfizeste, enquanto em verso criaria
O destino que à minha poesia deste.

Ontem fui o que esperavas de mim, alegações que em ti
Cabiam no que és, da cabeça aos pés, do físico ao metafísico
Mesmo sem saberes o que é.

Porque ontem fui fútil, hoje sou fútil e amanhã serei fútil,
Porque a inerência do fútil foi criada ontem,
Pelo poeta fútil que anteontem não o era,
que era a fera crítica, que era a física da verdade
que era a liberdade nas inverdades dos outros
que era educado, porque era ferido, porque era mentido.

Amanhã serei fútil porque se acabou a verdade,
Porque a deixei morrer para eu viver
Para renascer numa nova liberdade
E aumentar o âmago de teu renovado ser.

Sou fútil porque não sofro, porque faço sofrer
Sem que saibas o que é sequer sofrer,
Sem que saibas o que é viver.

Sou fútil porque digo sim. Fútil quando digo não.
Fútil quando digo talvez, quando magoado demais
Com o resquício do orgulho que não vês.

Sou fútil quando durmo. Fútil quando finjo que durmo
Preocupado com os demais fúteis.

E sabes que mais?
Sou fútil.


(Alberto Velasquez)


voltar última atualização: 05/10/2004
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