A Garganta da Serpente

Alan Nery

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Era um barco...

Era um barco. Agora é pássaro, e ninguém pode prever o que será daqui a pouco; Esses segundos que passam são mágicos, mas não espalhe por ai. É o bolo que cresce, sozinho e colorido, a temperaturas carnavalescas, é a criança que chora baixinho, com muita sinceridade em cada lágrima, é o sol indo dormir e mesmo assim radiante. É quase tudo que sempre fica pra trás.
Agora é pássaro. Mas um dia foi barco, e ninguém mais se lembra do que fora antes disso. É a vida de alguém especial em seu anonimato e naturalidade. É a amizade que vira amor, e depois volta a ser amizade, todo fim de tarde.
Agente aperta bem os olhos, parece até japonês, para ver o barquinho se perder em seu caminho, e naquele momento agente sente que tudo na vida é maior, descobrimos todas as respostas, e esquecemos; Que graça há? O olho prende o barco mais alguns instantes, parece que num quer largar, mas larga, devagar cede, e passa um último carinho-golpe-de-vista; Acredite sim senhor, que quem ama a distância aprende a acariciar só usando os olhos.
Quando esse sentimento vem, da vontade de virar azul e dormir até agosto, da vontade de comer doce e de assistir filme. Da vontade de ficar sozinho, mas que pelo menos sempre tenha alguém ao alcance. Da vontade de num ter mais vontade nenhuma.

Agora já nem é mais pássaro, muito menos barco.
Agora talvez nunca tenha sido nada.


(Alan Nery)


voltar última atualização: 24/11/2007
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