A Garganta da Serpente

Adhemar Molon

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Amigo dos dias úteis

Sou o amigo dos dias úteis
Para suas coisas fúteis
Coisas para seu lazer
Mas nos fins das semanas
Feriados e dias santos
Recebo suas bananas
Ficando guardado nos cantos
Sou coisa sem importância
Que pode ficar à distância
Você não precisa me ver

Assim, perco meu sono
Sentindo esse abandono
Sofrendo dessa solidão
Enquanto está com seu dono
A quem dá seu coração
E toda sua atenção
Nos seus dias e noites
Prendendo-se sem deixar
De se grudar a toda hora
Durante o fim de semana
Quando fico com a banana
O seu dono lhe devora

Seu dono a possui por inteiro
Na cozinha, quarto, e banheiro
No chão, no divã de sua sala
Onde sempre ele se instala
Sempre o senhor absoluto
Recebendo suas carícias
Gozando de suas delícias
Enquanto guardo meu luto

Comigo fica a saudade
Com outro a felicidade
Comigo fica a frieza
Com outro a delicadeza
Comigo fica a ilusão
Com outro seu coração
Comigo fica o sofrer
Com outro todo prazer
Comigo fica a agonia
Com outro fica a orgia
Comigo tanta tristeza
Pra outro tudo é beleza
E assim vou ficando
O dia útil aguardando

Migalhas de seu sorriso
O tão pouco que preciso
Para sentir-me feliz
E você toda orgulhosa
Desfila muito formosa
Eu sempre pedindo bis
Na ânsia de lhe rever
Aceito o pouco querer
Feliz com o que recebo
Sem conseguir perceber
Que assim vou morrendo
Odiando fins de semana
Com seu dono em sua cama
E eu aqui chupando o dedo


(Adhemar Molon)


voltar última atualização: 01/05/2006
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