A curva se reproduz
a curva se reproduz
no corpo da bela mulher
em cada ponto em cada poro
em cada reentrância
ela nos diz bem tranqüila
vejam-me bem observem-me
não se esqueçam de mim
eu toco o seu silêncio
vibro em seu coração
em todos os seus órgãos
sou sua amiga querida
e às vezes sua inimiga
sei que você sonha comigo
e se lembra quando acorda
e nos seus íntimos momentos
eu lá estou acesa e viva
não me arrependo de nada
pois cumpro a minha tarefa
de acender seus instintos
suas emoções seus sentimentos
até mesmo os mais intensos
sei que sou explorada
em troca do vil metal
enquanto mantenho-me viçosa
provoco sorrisos dissimulados
e olhares de cobiça
e até mesmo o delírio o vício
o desejo mais carnal
muitas vezes me envaideço
ao provocar o tropeço
do passante que se distrai
que rola pelo passeio se esfola
rio-me suavemente
mostro-me ausente
com um ar bem inocente
pois a culpa não foi minha
na verdade foi da mídia
que explora-me ao máximo
usa de todos os recursos
numa louca volúpia
eu continuo na minha
sei que sou simples carente
mas por outro lado não me esqueço
de manter minha postura
por mais falsa que esta seja
e de usar de artifícios
que colocam ao meu dispor
pois é o que o mundo quer
(15/07/2010)
(Abilio Terra Junior)
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