Lu Cavichioli versifica pelas formas alvas e claras no início do livro,
o que me faz lembrar a igual preferência de Cruz e Souza pelo branco (poeta
simbolista - fim do séc. XIX). Porém, ela não se detém
nas formas claras, porque no transcorrer dos capítulos a poeta abre e
fecha janelas onde dispõe cores, sabores e aromas texturizados em seu
modo de poesia visual, guiando o leitor através das imagens na prática
da fantasia aos ventos mágicos de seus versos livres. Nesse ato de poesia,
a autora se desvincula de qualquer arquitetura poética conhecida, para
assinar seu estilo próprio. Estilo que eu denominaria de Contemporâneo
e se pudesse acrescentaria "alto e giratório", a contar pela
forma que a poeta submete o leitor às várias janelas em movimento;
até que se alcança pela leitura um surpreendente mirante telescópico
e também microscópico, onde é possível vivenciar
o ápice de sua objetividade sem distanciar-nos do embriagador cálice
de vinho tinto do romantismo.
Em meio às janelas de seus "Re(cantos) de Mim", a autora
faz um brinde com "Pérolas de Maresia" criando seu livro pela
água salgada, regente das marés da vida e sentimentos humanos,
como se fosse um convite ao leitor para catar pérolas em seus versos.
A poesia evolui suavemente trazendo "Lágrimas de Prata" aos
olhos e descortinando "Vitrais" de valor, levando a enxergar tal "pintura"
como se fosse uma "natureza viva" e atuante. Ao fim de penetrante
viagem, a poeta encerra a última janela em "Sinfonias", sugerindo
a composição de novos poemas, porque as belas sinfonias sempre
deixam a veia aberta para a próxima apresentação.
Nos seguintes versos, um exemplo da poesia de Lu:
Luas Novas: Um Certo Linguajar de Plumas
Em meio à multidão
de vozes escritas
poetas penetram a noitea lua geme num frenesi
tão branca, tão nuagrávida em pérolas
Musa-mãeinteira de prazer
Minhas observações: a poeta liga o corpo da Natureza ao ser humano
e faz a Terra sentir prazer ao ler sua poesia visual desenhada em cetim perolado
e fina porcelana, por isso, quase palpável em suas mensagens. Seus versos
nascem todos os dias e não se põem com o Sol, porque também
brilham com a passagem dos raios lunares, onde Lu Cavichioli pratica
a magia de redobrar os sentidos através de seu prisma poético.
P.S.: agradeço à poeta a oportunidade de escrever as orelhas desse
livro maravilhoso.
Re(cantos) de Mim
Autora: Lu Cavichioli
All Print Editora
Ano: 2008
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