Com o sucesso na carreira literária, Adélia Prado abandona o magistério
após vinte e quatro anos de trabalho para se dedicar à alquimia
do cotidiano com a sensibilidade de suas riquezas interiores, pelo ponto cego.
Formou-se em Filosofia. Recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira
do Livro com o lançamento : O Coração disparado. Suas obras
foram levadas ao teatro com grande sucesso, outras foram traduzidas para a Língua
Inglesa e Espanhola. Publicou dezenas de livros, tanto poesias como prosa: Oráculos
de maio, A faca no peito, Solte os cachorros, Cacos para um vitral e outros.
Com um discurso indireto livre o narrador-personagem utiliza um tempo anacrônico,
temas dicotômicos e um ambiente psicológico que dá ênfase
às observações e às circunstâncias dessa "vidinha
besta". As personagens secundárias aparecem e somem em prolepse
que deixam o leitor em grandes expectativas.
A dicotomia do sagrado e do profano está presente nos quarenta capítulos
interligados a uma sexualidade reprimida com o excesso de religiosidade, gerando
uma poética Adeliana de prazer e pecado; de culpa e medo da morte.
Na visão Freudiana é como se o superego, incessantemente, lutasse
com o id da personagem Felipa que se condenava e se absolvia num jogo de energias
da sexualidade, aparentemente, desconexa, mas que com sua fé católica
aliada ao ego-lírico, retratam o dia-a-dia com a beleza e a disciplina
com que tudo e todos fomos criados por Deus.É uma leitura velada que
dá acesso a uma viagem simples, anacrônica, despretensiosa e ao
mesmo tempo, um "grudar" em uma rede psicológica com inúmeros
sonhos Freudianos e uma realidade eternamente questionável.
Sem qualquer tempo-espaço, sem qualquer obstáculo, sem qualquer
direção, apenas o delivrar de pensamentos, sonhos e recordações
de Felipa: uma mulher de meia idade, fóbica, religiosa, pecadora, crítica,
usuária de ansiolíticos; capaz de conciliar ao mesmo tempo enceradeira
com microondas, deitada em um divã, como se estivesse em uma sessão
interminável Freudiana de Associação Livre.
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