O famoso escritor argentino José Luis Borges dizia que sempre imaginou
o paraíso como uma grande biblioteca. Acredito que para o bibliófilo
e membro da Academira Brasileira de Letras, José Mindlin, essa premissa
deva ser verdadeira.
"No Mundo dos Livros" é uma declaração de amizade.
Em ritmo de conversa, o autor nos apresenta como iniciou sua famosa biblioteca,
uma das maiores da América Latina e cujo acervo referente a história
do Brasil foi doado para a Universidade de São Paulo e aguarda a construção
de um prédio para abrigar todos os exemplares. O autor ainda lança
pequenos lampejos de sua infância e tempos de acadêmico de direito,
relatando seu contato com grandes escritores da época como Monteiro Lobato.
No entanto, deixa claro que seu maior interesse sempre foi pela leitura, sendo
voraz o seu apetite nesse campo. Assim, desde cedo se familiarizou com os grandes
clássicos universais, não esquecendo, todavia, da importância
da literatura nacional para sua formação intelectual e cultural.
A conversa, pois a leitura do livro assim se apresenta, no entanto, mais impressiona
pela empolgação do autor ao falar sobre o prazer da leitura, não
sendo poucas as vezes que Mindlin se desculpa por não ter tempo para
abordar todos os assuntos com mais vagar. Nesse particular reside a parte mais
fascinante da leitura, qual seja: o exemplo dado por um bom leitor.
Gosto de falar de livros e discutir leituras com amigos e conhecidos, ainda
que muitos não tenham o hábito de ler. Fico animado quando algum
deles apresenta curiosidade pelo que estou falando. Tenho que um dos maiores
incentivos para novos leitores é o contato com aqueles que conhecem literatura
e gostam de falar sobre ela. Caso possam fornecer dicas de leituras e dados
sobre a vida dos escritores, melhor ainda. Todos aqueles que se interessam por
livros ficam maravilhados em ter contato com escritores e costumam partir dessas
conversas querendo devorar livros e mais livros. Infelizmente, aqui nesse nosso
rincão, poucos são os autores que se prontificam a conversar,
sendo que muitos deles, especialmente aqueles que se julgam de primeira estirpe,
preferem o isolamento e até se mostram arredios ao contato com seus leitores.
Tal fato, porém, nada deve representar, pois, segundo Montesquieu, "nunca
tive um dissabor que uma hora de leitura não aliviasse".
Assim, fica o incentivo para a leitura, para novas descobertas e encontros.
Não precisa necessariamente ser um clássico, um monstro sagrado,
mas um livro que lhe agrade, que lhe dê prazer. Dessa forma, encerro essa
singela resenha citando Varlam Chalámov, escritor russo falecido em 1982,
que assim dizia:
"Os livros são como pessoas; eles podem decepcionar ou envolver.
Na vida de qualquer homem alfabetizado há sempre um livro que desempenhou
um importante papel em seu destino. Frequentemente não se trata de uma
obra de um gênio reconhecido, mas de um ordinário romance de um
modesto escritor."
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