A Garganta da Serpente
História da Literatura escolas literárias
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Humanismo

Teatro popular de Gil Vicente.:

O teatro é o gênero literário em que ficam mais claras as características do Humanismo, como o conflito entre o homem medieval e o homem moderno.

As manifestações teatrais medievais não seguiram a tradição greco-latina, que já era bem avançada. Começaram a partir do nada.

Antes do aparecimento de Gil Vicente (1462? - 1540?), o teatro praticamente não existia em Portugal, estando intimamente ligado às representações religiosas litúrgicas (mistérios, milagres e moralidades). Nos palácios, as manifestações teatrais eram à base de improvisações, momos, arremendilhos, entremezes, principalmente mímicas e também músicas e poesias.

Gil Vicente (ourivez) inicia o teatro popular em 1502, com a encenação do Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro, em homenagem ao nascimento de D. João III. Caracterizava-se pela simplicidade absoluta e por ser feito em cima de um texto, pois ainda havia improvisação. Publicou 44 peças (17 em português, 11 em castelhano e 16 bilíngües). Em 1562, seu filho, Luís Vicente, publicou a Compilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente.

O teatro é baseado em texto, escrito em versos, e muitas vezes bilíngüe (português e castelhano), com o uso de uma linguagem mais popular e até do português arcaico. Nota-se sua simplicidade cênica (palcos e cenários sem aparatos), a quebra da regra das três unidades do teatro clássico (ação/tempo/espaço) e uma despreocupação com a verossimilhança.

Dessa forma, muitas vezes a peça apresenta quadros descontínuos de mesmo tema, mas sem ligação entre si, isto é, caracteriza-se como uma sucessão de cenas relativamente independentes, sem formar propriamente um enredo, que se complicam até um ponto culminante e um desfecho.

Do ponto de vista técnico, a dramaturgia de Gil Vicente era rústica e primitiva. Caracterizava-se como um teatro popular, de influência medieval (movimento de platéia, moral religiosa e concepção teocêntrica do mundo), mas imbuído de elementos ideológicos inovadores e polêmicos de crítica social: aos costumes, à nobreza, ao clero, à sociedade, aos profissionais liberais, juízes e tipos sociais. Ou seja, predomina a temática religiosa misturada com a profana (cenas da vida popular e crítica social). Cabe lembrar que o Antropocentrismo se preocupa com a vida humana, mas não rejeita ou omite a religião. Dessa forma, Gil Vicente apresenta o homem em sociedade, criticando-lhe os costumes e tendo em vista reformá-los. Trata-se portando, de uma obra com missão moralizante e reformadora. Não visa atingir instituições, mas os homens inescrupulosos que as compõem.

A maioria das peças são comédias de costumes, seguindo o lema latino "ridendo castigat mores" (pelo riso corrigem-se os costumes). As situações são absurdas e as personagens são típicas, caricaturais: não são individualizadas nem possuem traços psicológicos complexos; pelo contrário, reúnem os caracteres mais marcantes de sua classe social, profissão, sexo ou idade. Ex.: fidalgos, adúlteros, judeus, alcoviteiras, clérigos corruptos, médico incompetentes, burgueses materialista...

Suas farsas são teatros narrativos, compostos por cenas encadeadas em seqüência lógica, com começo, meio e fim. Geralmente possuem tom satírico e enfocam a crítica social e de costumes. Ex.: Quem tem farelos, O velho da horta faça o download, Farsa de Inês Pereira faça o download.

Os autos são mais simples, com temática religiosa e social e geralmente são alegóricos. Ex.: Auto de Mofina Mendes e a Trilogia das Barcas (Auto da Barca da Glória, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca do Inferno) que apresenta quadros de grande teor alegórico, na qual sério e cômico se contrapõem, zombando dos costumes com intenção moralizante.

A alegoria é uma figura de linguagem caracterizada pela representação concreta de uma idéia abstrata, ou seja, é uma personificação simbólica. No teatro alegórico, utilizam-se situações concretas e personagens alegóricos para representar idéias abstratas.

O Auto da Barca do Inferno faça o download (1517), escrito em redondilha maior, é uma das obras mais representativas do teatro vicentino. Nele fica evidente o conflito entre o medieval e o moderno: ao mesmo tempo em que o autor trava a interminável batalha maniqueísta entre Deus e Diabo, batalha essa defendida pelo homem medieval, ele apresenta uma crítica social os defeitos do homem da época, mostrando assim uma forte tendência antropocêntrica e moderna. A peça mostra diversos mortos recentes que se dividem em duas barcas: uma, conduzida por um Anjo, vai ao Paraíso; a outra, conduzida pelo Diabo, vai ao Inferno. Nesta peça, o cais e as barcas são alegorias da morte; a barca do inferno é alegoria da condenação da alma e a barca do céu, a da salvação.

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