- Teu ser bem pouco à natureza deve! - Disse o carvalho à cana. - O pássaro mais leve, Se pousa sobre ti, logo te abana; Um ligeiro soprar Que a face encrespa do regato, apenas, Faz-te logo vergar E obriga-te a sofrer bem duras penas; Enquanto eu ergo a fronte com vaidade, Do sol detenho o raio; Todo vento é-me um zéfiro de maio, Para ti, todo o vento é vendaval! Se da minha ramada Nascesses abrigada, Não sofrerias um tamanho mal. O fado foi contigo muito injusto! - A tua compaixão - Lhe respondeu o arbusto - Abona o teu sensível coração; Mas tanto não te mates Chorando as minhas penas: Melhor que tu, do vento sofro embates; Não quebro, dobro apenas. Tens-te agüentado bem, Tens resistido a rígidas nortadas... Porém, atrás do tempo, tempo vem! Taís vozes acabadas, Bóreas em seus furores se despica; A pobre cana dobra, Firme o carvalho fica. Ativa Bóreas a feroz manobra, Faz tão cruenta guerra, Que deita, enfim, por terra, Quem com a fronte nos astros topetava E no abismo as raízes ocultava! Não consegue o seu fim na estância térrea Quem tudo quer levar à virga-férrea; E é de crer que bem pouco se moleste O que se abaixa quando a onda investe. |
(fonte: "Fábulas de La Fontaine". Tradução: José Inácio de Araújo
Rio de Janeiro: Editora Brasil-América - EBAL - SA, 1985)
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