O CEP surgiu há doze anos, oriundo de um evento de poesia somente, chamado Terças Poéticas, organizado pelo Guilherme Zarvos, do qual grandes figuras da poesia participaram, como Ferreira Gullar e João Caral de Melo Neto. Em uma dessas Terças, o Chacal foi convidado para participar e eles, juntos, decidiram fazer algo mais moderno e experimental... e que juntasse a poesia com outras formas de arte. Dai veio o CEP, que junta a poesia com a música, a dança, o teatro, a performance, o vídeo, etc...Quem já passou pelo CEP?
Pelo CEP já passaram mais de 5.000 artistas nesse tempo todo. Mas para citar alguns: Pedro Luís, Seu Jorge, Bianca Ramoneda, B Negão (Planet Hemp), Cazé Pecini (MTV), Baia&RockBoys, Alex Hamburguer, Wally Salomão, Michel Mellamed, Moreno Veloso, Jorge Mautner, Viviane Mosé, Thalma de Freitas, Camila Pitanga entre outra multidão de menos famosos mais não menos talentosos.Qual o perfil do novo artista brasileiro?
Acho que o perfil do novo artista brasileiro é não ter um perfil. Pelo CEP passam desde bandas de Punk até samba, algumas misturando tudo outras fazendo algo bem tradicional. Alguns poetas loucos (algumas vezes, literalmente, como era o caso do Joe, poeta que ficou famosos no rio e era interno do Pinel, e se apresentava freqüentemente no CEP). Alguns poetas quase parnasianos. Talvez falte até um pouco de unidade, de um movimento (que sempre ajuda a solidificar uma idéia artística). Mas, em contrapartida, deixa tudo em liberdade total. Pode se fazer o que quiser no CEP. Inclusive ser ruim. Nem tudo que vem ao CEP é bom. Muita coisa não é boa. Mas essa é a graça, e o público vem também por isso.Como sobrevive o projeto?
Nos temos o patrocínio da RioArte, que nos permite cobrir todos os gastos necessários, e não há quase nenhum princípio lucrativo no CEP. No fim do mês, nos ficamos com menos de um salário mínimo para fazer o evento. Mas feliz da vida pelo sucesso desses doze anos.Como a internet ajuda o CEP 20.000?
Em divulgação (que nós fazemos uma grande distribuição de e-mails mensais), em acesso mais fácil para descobrir poetas e músicos Brasil a fora, e a Internet é um novo e incrível meio de comunicação, e comunicação é tudo no CEP 20.000.Quem pode participar do CEP?
Todo mundo. Realmente qualquer um. Basta mandar algum material, ou pelo menos manter contato. Que nós colocamos em uma fila (Que não é pequena, confesso). mas que alguma hora você participara. Poetas são mais fáceis, pois exigem menos estrutura e são mais rápidos. Banda é que é um pouco mais difícil.O CEP tem um público cativo?
Sim, o CEP certamente formou um público cativo. A prova disso são esses últimos dois anos que eu trabalho no evento e que não houve um só mês em que as portas não tivessem que ser fechadas devido a falta de lugar para o público que estava chegando (cerca de 300 pessoas/mês - lotação máxima do teatro). O público que freqüenta costuma ser bem variado, mas uma boa parte é formado por universitário (normalmente da Zona Sul - UFRJ, PUC, UniRio) e por jovens em geral, que participam mais desse meio "alternativo"(apesar deu detestar esse rótulo) do Baixo Gávea, Forrós, Circo Voador, Lapa, Santa Tereza e etc.... Mas existe uma parte de pessoas mais velhas e de outros "grupos" ou do subúrbio. É realmente bem variado, porém fixo.Quais as principais tendências do CEP?
Todas. Por isso se chama Centro de Experimentação POética. E o poética do nome quer dizer poesia de uma forma geral. Poesia em música, a poesia da dança, do teatro, da vida. Qualquer corrente que já aconteceu ou que vier a acontecer vai encontrar algum espaço ou identificação dentro do CEP. Da Tropicália ao Hip Hop, passando pela música erudita, indo ao Punk e voltando aos parnasianos e modernistas. Vale tudo.O Chacal apadrinhou ou é o fundador do CEP?
O Chacal não apadrinhou o CEP. Ele, junto com o Guilherme Zarvos, fundou o evento e apresenta e organiza um dos dias (o evento acontece duas vezes por mês) há doze anos.A poesia tem que ser falada para se apresentar no projeto?
Não. De certa forma, o CEP acaba valorizando a poesia falada pelo seu formato do show - performance. Mas nós fazemos lançamentos mensais de poetas impressos, em uma produção independente, e já saiu um livro de poesia do CEP chamado 7 + 1, e vários desses poetas que já se apresentaram no CEP tem seus livros publicados. Mas, de maneira nenhuma a poesia tem que ser falada. É só mais um meio de comunica-la.De onde vem o nome CEP 20.000?
O título CEP 20.000 vem do endereçamento postal do Rio (que é 20.000, agora 20.000-000) e quer dizer CENTRO DE EXPERIMENTAÇÃO POÉTICA. Mas o Chacal tem uma bela frase que diz que o "CEP é no mínimo, terapêutico". Que é a pura verdade. Por mais que em uma noite não aconteça nada de bom no evento, você sai de lá pelo menos mais feliz.Qual o papel do escritor na sociedade?
Apesar de pouco valorizado o escritor hoje em dia, principalmente o escritor novo ou os escritores "marginais", os "Não comercias", ele exerce um papel importantíssimo. Primeiro, de manter viva a literatura brasileira que é a mais rica do mundo. Segundo, de retratar o seu tempo e assim, o tempo em geral, sempre, naturalmente, sobre outra ótica. O escritor, e principalmente o poeta, tem o papel de enfiar o dedo nas feridas, de xeretar os buracos dos sentimentos, de contar mentiras quando quiser e de dizer verdades. Tanto faz. O escritor tem o papel de abrir as possibilidades.
(2002)