A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Ronald Polito

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- Ronald Polito -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Ronald Polito nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 5 de abril de 1961. Publicou quatro livros de poesia: Solo (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996), Vaga (Mariana: Edição do autor, 1997), Intervalos (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998) e De passagem (São Paulo: Nankin, 2001), além de uma plaquete com poemas gráficos, Objeto (Mariana: Edição do autor, 1997). Com Donizete Galvão, publicou o livro de poemas Pelo corpo (São Paulo: Alfarrábio, 2002). Preparou a edição dos poemas A Conceição: o naufrágio do Marialva, de Tomás Antônio Gonzaga (São Paulo: EDUSP, 1995), e Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia, de frei José de Santa Rita Durão (São Paulo: Martins Fontes, 2001). Traduziu, com Sérgio Alcides, o livro Poemas civis, do poeta catalão Joan Brossa (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998), e o livro Almanaque das horas e outros escritos, do escritor mexicano Julio Torri (São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2000).

Como foi feito o livro com Donizete Galvão?
Foi Donizete Galvão, meu amigo há muitos anos, que propôs o tema, pois ele se interessou por poemas de meus livros anteriores que tratavam do corpo. Isto aconteceu no final de 2001. Fomos, então, escrevendo os poemas e mandando-os um para o outro. Tudo aconteceu de forma bem natural, sem datas marcadas, sem número de poemas rigorosamente previsto. Num certo momento, entendemos que o livro estava pronto. De meus 14 poemas, 9 foram escritos aqui no Japão. Os outros 5 já existiam, ainda que um pouco diferentes de como apareceram no livro, pois eu os modifiquei. Inclusive, 4 deles pertenciam inicialmente ao livro De Passagem, que publiquei em 2001, mas eu acabei deixando-os de fora quando concluí aquele trabalho. Aí percebi que eles combinavam com o nosso projeto e os retomei. E um deles, o poema em prosa ''Carga'', é mesmo muito antigo, creio que foi escrito em 1993, se não me falha a memória.
Como é constar da antologia Na virada do século - Poesia de invenção no Brasil?
Fiquei muito feliz por ter sido incluído na antologia, já que meu trabalho tem pouca visibilidade. Ainda não vi a antologia, pois há muitos problemas com o correio entre o Brasil e o Japão. Mas espero em breve poder lê-la e verificar a seleção que Claudio e Frederico fizeram.
Qual uso faz da internet, morando no Japão? O que faz no Japão?
No Japão, a internet me permite, fundamentalmente, comunicar com meus amigos do Brasil. Utilizo-a também para pesquisar, principalmente os acervos de algumas bibliotecas nacionais, como do Brasil, de Portugal, da França, da Espanha e da Itália.

Aqui no Japão sou professor visitante da Tokyo University of Foreign Studies. Dou aulas de língua portuguesa para as séries iniciais do curso e trabalho com literatura brasileira com as últimas séries e com os alunos do mestrado. Tem sido uma experiência difícil e ao mesmo tempo muito interessante, já que os alunos são em geral excelentes.
O Japão influencia a sua literatura? Como?
Creio que ainda é muito cedo para eu verificar que influências o Japão estaria exercendo em minha escrita. Comigo as coisas demoram muito tempo para se sedimentar e estou aqui apenas há um ano e meio, o que é pouco tempo para meu relógio pessoal. Mas sem dúvida estou tendo minha sensibilidade alterada em função de minha freqüência a museus e exposições de artes plásticas, bem como ao teatro tradicional japonês. Ainda estou absorvendo, não sei o que nascerá disto.
Com quantas metáforas se faz um poema?
Não sei. Há poemas que praticamente não têm metáforas e em outros elas são centrais. Depende do projeto literário mais ou menos consciente de cada um.
Qual Drummond dentre os Drummonds elege como o seu Drummond?
Creio que todos os Drummonds, pois acho que há poemas dele que são brilhantes em praticamente toda a sua vida.
Como é o seu processo criativo?
É bastante arbitrário. Não sei como escrevo, por que escrevo. Simplesmente escrevo, sem razões claras. Os poemas acontecem em função de uma palavra, uma frase, uma anotação; não sei onde elas vão me levar quando inicio um poema, vou descobrindo-o no próprio processo de sua escrita, que é sempre muito árduo, muito torturante. É como estar num túnel sem saída no qual, às vezes, aparece uma luz. Aí eu consegui escapar.
Para que serve a poesia?
Em meu caso, leio poesia para ter prazer estético. É disto que estou atrás.
Tem alguma epígrafe?
Penso que não. Já tive algumas que me eram muito caras, mas atualmente isto se dispersou. Dificilmente me recordo do que leio, não costumo fazer citações em meus poemas, a não ser raramente, pois em geral não gosto deste tipo de referência, parece-me uma prática antiga, datada, que envelheceu nos dias atuais. Isto não impede que em quase todos os meus textos esteja ocorrendo um diálogo com outros textos, mas tudo de forma muito misturada, metabolizada, disfarçada.
Qual o papel do escritor na sociedade?
Escrever, escrever, escrever.

(2002)

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