A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Leda Ulysséa

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- Leda Ulysséa -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Leda por Leda: Acho ridículo apresentar um currículo formalmente estruturado mas na prática da vida inútil. Enfim, algumas referências: Livre Docente em Sociologia do Desenvolvimento; Doutora em Ciências Sociais; Bacharel e Licenciada em Filosofia; Professora Titular da UFRJ; Paraibana mansa; Mãe de numerosa família, de mais ou menos uns 6 bilhões de filhos. Creio que estou exposta o suficiente para que os leitores me entendam, com estas linhas.

O que significa o título do seu mais recente livro: "Todos e Ninguém"?
O título significa que ou todos se salvam ou ninguém se salva, incluindo-se aí estruturas de todo o nosso planeta, tanto animais quanto vegetais e minerais. Chegamos à famosa "beira do abismo".
O que caracteriza a sua obra?
O que caracteriza a minha utilização das categorias sociológicas é a minha finalidade de "fazer as cabeças" das pessoas quanto à gravidade da situação mundial e, ao mesmo tempo, mostrar o que eu considero a chave do caminho da salvação, que , neste caso, é sinônimo de sobrevivência.
Você já escreveu sobre as Ligas Camponesas, qual é a relação existente entre elas e o Movimento dos Sem Terra?
A relação das Ligas Camponesas com o Movimento dos Sem Terra é histórica e política. As Ligas, irradiadas de Pernambuco para a Paraíba e outros estados brasileiros, eram mais primitivas, o pessoal era mais radical e guardavam no seu comportamento revolucionário os valores culturais do Brasil rural, como as crenças religiosas e políticas. Eles beijavam a mão do líder Julião e prosseguiam nos batizados e outras cerimônias da tradição católica.
Como vê o governo FHC?
O nosso presidente é, antes de tudo, um equívoco para mim e outros intelectuais ligados às Ciências Sociais , tanto que eu mesma votei nele em 1994, erro que não repeti em 98, quando votei no Lula.
Alguma crítica à mídia?
A mídia, como tenho constantemente dito, é a ponta do poder do Império Mundial formado pelo poder financeiro internacional. Isto se explica pela própria estrutura econômica das empresas, que tiram as suas receitas dos anúncios das produtoras dependentes da boa vontade do poder plutocrático, embutido no poder político.
O que há de errado na política cultural do governo?
A política cultural do governo, como todas as áreas da aplicação das verbas estatais, obedece às orientações do núcleo mundial do poder financeiro, que justamente exige rendimento do que eles chamam "desenvolvimento" e negam qualquer maior cooperação com as áreas propriamente humanas como a saúde, a educação e a cultura.
Qual a relação da sua obra com a religião?
Tanto a minha poesia quanto a prosa (ensaios) são compatíveis com quase todas as religiões conhecidas aqui. Sou batizada na Igreja Católica mas não costumo freqüentar nem os templos nem os sacramentos e, ainda por cima, recuso a ditadura teológica de qualquer religião. Por exemplo, vemos que o budismo ensina a mesma coisa que o mestre Jesus ensinou, isto é, a compaixão, o perdão , enfim todos os corolários do amor.
Quais escritores a influenciaram?
Na minha formação filosófica, posso apresentar uma pequena listinha dos que influíram no resultado mostrado nos meus livros: Marx, realmente escritor, e alguns que não escreveram nada como Sócrates e Jesus.
Tem algum mote que a acompanhe?
Tenho vários motes tirados da Bíblia que me acompanham. Por exemplo, Isaías, quando diz : "Vocês são deuses", frase repetida por Jesus, e este que eu considero o único mandamento: "Ama o teu próximo como a ti mesmo", recomendação do próprio Nazareno Jesus.
Qual o papel do escritor na sociedade?
O papel do escritor na sociedade depende do que cada escritor tem como diretriz da sua vida pública e privada. No que me diz respeito, creio que os escritores devem ajudar o povo nos seus reclamos quanto principalmente à sobrevivência , ao bem estar, enfim à felicidade, que está longe tanto dos ricos quanto dos pobres.

(2002)

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