A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Heron Moura

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- Heron Moura -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Dados sobre o autor: Nasceu em Recife, em 1963. Transferiu-se para Florianópolis - SC em 1986, a fim de cursar Mestrado em Lingüística na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na qual entrou como professor concursado em 1990. É Doutor em Lingüística pela UNICAMP(1996). Estudou também na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, no ano de 1994, como parte de seu Doutorado. Em 1987 saiu o seu primeiro livro de poemas - Pergaminho-, publicado pela Editora da UFSC. Em 1995, publicou Margem Móvel, também pela Editora da UFSC. Vendedores de sono e outros poemas (Ed. Nanquim,1999, São Paulo) é seu terceiro livro de poemas. Por esta obra, recebeu o Prêmio Minas de Cultura-1998, cuja comissão julgadora contava com Armando Freitas Filho e Duda Machado. Vendedores de Sono concorreu com mais de 1300 livros. Heron Moura faz atualmente seu pós-doutorado em Paris.

Qual a influência da fotografia e da pintura na sua poesia?
A fotografia não influenciou em nada minha poesia, mas a pintura sim. O que me interessa na pintura é o trabalho com a luz, e a dinâmica das formas. Ou seja: aquilo que torna o quadro uma representação dinâmica do espaço. O controle da luz é uma forma de lidar com o espaço, e de um modo geral com a vida.
O tempo é motivo de reflexões: "o tempo no corpo é mais torneado/nas partes mais sensíveis ". O tempo é um escultor de sensibilidades?
Eu tenho uma relação complicada com o tempo; é como se ele fosse espaço, como se eu andasse dentro dele, mas ao contrário da ordem que impomos ao espaço (nas cidades, por exemplo), o tempo é impensável.
Sobre o espelho ainda você nos diz que é um "Embalsamador de gaviões/(perpetuando uma morte nunca completa)". O narcisismo é também uma tentativa de amar à eternidade?
Parece que não conseguimos mais pensar o homem sem o narcisismo; mas quero crer que se trata de um vício de nossa civilização; na nossa natureza há vícios mais básicos. O narcisismo é circense, como mostra o poema.
"As colunas da luz, nunca em ruínas,/expõem ao olho a cidade no osso." A luz escolhe o que deve ser iluminado?
Não, a luz ilumina até um quarto de janelas fechadas. Mas a gente, com muito esforço e quase inutilmente, pode escolher e intervir no olho, que é o que define a luz para a gente.
No poema Canto do homem na sala está escrito: "preso na quarta parte da esfera/nunca completa nos éles da sala". A poesia também está na eometria do poema?
A poesia é a geometria do poema.
Como foi receber o prêmio MINAS de CULTURA?
Foi muito bom.
O que deve ter no poema de Heronides Moura?
No meu poema deve haver vida.
Qual uso faz da internet?
Sou viciado em internet; para mim é ótimo, pois detesto TV (exceto pelo futebol). Quando voltar ao Brasil, pretendo fazer um bom site com meus poemas.
O poeta brasileiro é um erudito? Quem é o poeta brasileiro?
Lembro Fernando Pessoa, que dizia que um poeta não precisa saber resolver uma equação, mas se ele sabe ele é melhor poeta. Quanto ao poeta brasileiro, a fauna é variada. O Brasil é terra de poetas, alguns até bons.
Tem alguma epígrafe que o acompanhe?
Não tenho epígrafe nem epitáfio que me acompanhe.
Qual o papel do escritor na sociedade?
O papel do poeta, em especial, é ser profundamente rebelde. Quanto mais técnico, mais rebelde.

(Paris, 22 de março de 2OOO)

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