A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Greta Benitez

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- Greta Benitez -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Greta Benitez é escritora e publicitária pós-graduada em marketing. Já ganhou e obteve destaques em inúmeros concursos realizados no Brasil e no exterior.Lançou em 1999 o livro de poesias Rosas Embutidas, ganhador do prêmio Jorge de Lima Brasil 500 Anos, concedido pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores. É criadora e editora dos sites Poesia Insana www.geocities.com/gretabenitez e Para Dias de Chuva www.geocities.com/reginabenitez. Participa do site Patife www.patife.art.br com Gazeta do Absurdo, notícias de jornal nada convencionais. Gosta de jazz, blues e gatos. Nasceu e mora em Curitiba-Paraná-Brasil. Em breve pretende lançar Café Expresso Blackbird (poesia) além de um livro de contos."

Você é uma poeta muito premiada. Como foi esta jornada - dentro da poesia - até ser a poeta que é hoje em dia?
Sempre escrevi para mim. Pensava em frases e construções que achava interessantes, então eu anotava porque gostaria de lembrar delas depois. "Exata", por exemplo, foi toda "escrita" na minha cabeça no caminho da faculdade para minha casa. Nunca imaginei que essas coisas tivessem interesse para mais alguém, já que era tudo tão íntimo, tão parte de meu momento pessoal. Mas as pessoas que liam acabaram me convencendo a participar de concursos. Então comecei a acreditar que eu estava escrevendo alguma coisa que pudesse interessar aos outros.
Qual a importância de ter um site na internet?
Em primeiro lugar, sem dúvida, a divulgação. Sem internet, com certeza muito menos gente me conheceria e eu não teria acesso a muita coisa que me faz feliz. O alcance do livro não se compara com o alcance da rede, com seus mecanismos de busca e os anéis, que fazem aquela teia de links sobre um assunto determinado. Além disso, essa é uma mídia sem censura e barata, o que a torna um excelente local para encontrar o que a mídia convencional se recusa e não tem interesse em divulgar: o realmente criativo, inusitado, inovador. Não digo que tudo que está na net é ótimo, é claro, mas o interessado não tem tanta dificuldade em encontrar o que é bom. Sites como o do Frederico Barbosa são de incomensurável utilidade, já que ele é um profundo conhecedor de literatura e indica outros sites muito interessantes, inclusive de poetas novos e pouco conhecidos.
O que é ser uma garota com idéias bizarras?
Na verdade, isso é um jeito charmoso de expor a minha eterna inadequação. O que foi causa de sofrimento na infância, começou a ser motivo de orgulho na adolescência e que hoje eu administro. Sempre eu: aquela que não gostava das mesmas coisas que os colegas, aquela que via beleza onde os outros viam terror, aquela que percebia desgraça onde os outros só viam ridículo. E sempre aquele olhar crítico. Aquela "desconfiança" no bom sentido. Quando diziam: "Ah, porque fulano é péssimo". Eu: "Será mesmo? Deixe eu ver" Nunca aceitei idéias preconcebidas.
Você tem a música num lugar muito especial dentro da sua existência. Fale sobre música. Quais os Cds que escuta? Qual o tipo de música que houve? Em que a música influencia na sua poesia?
A música cria atmosferas. E destas atmosferas, crio situações, personagens. "Pesadelo", foi escrita sobre um tema instrumental do Tom Waits. Lembro que a primeira coisa que pedi quando criança foi um rádio. Isso porque papel e lápis sempre estiveram por perto, claro. Então ficava eu, menininha, com meu radinho azul, ouvindo, ouvindo. Não sei explicar, era uma necessidade mesmo. Depois tive uma vitrola daquelas clássicas, alaranjadas. Comecei a ouvir Scott Joplin e Beatles. Daí pra frente só piorei. Considero música o meu vício maldito. Fui para os guetos, locais perigosos, corri riscos procurando música marginal, sem divulgação. Sem ela passo mal! Costumo ouvir jazz quando me sinto desprotegida, ele me traz conforto. E ADORO blues, a música mais sexy. E sempre estou procurando. Agora estou muito interessada nos africanos. Eles são lindos.
Sua profissão é escrever textos aplicados? Qual é a sua profissão? Poesia é profissão?
Poesia, em primeiro lugar é trabalho. E trabalho pesado. Eu sou publicitária e não quero viver de poesia. Quando há dinheiro envolvido, existe a necessidade de se curvar à vontade de outros, fazer concessões ao mercado, preocupar-se com que querem comprar, enfim, escrever pensando no "consumidor final" ao invés do leitor atento e sensível. Isso é muito triste. Quero escrever o que eu quiser, o que eu gostar, com liberdade. Ainda mais sabendo que tenho companheiros que querem ler isso mesmo. Sempre digo: Me vendo barato na publicidade para poder ser cara na poesia. Na publicidade tudo bem: querem mudar, mudo, querem mexer, mexo. Mas por favor, nunca, jamais se metam com minha poesia. Isso eu não permito.
Para que serve a poesia?
Para enfeitar um momento. Fazer um domingo menos chato. Consolar uma pessoa que sofre. E para promover deslumbramentos que nenhuma droga é capaz.
Os heróis de HQ participam de seus poemas. Qual o objetivo de misturar HQ e poesia?
Eu gosto muito da estética dos quadrinhos. Não sou uma grande leitora, muito menos uma expert em HQ. Mas gosto muito das possibilidades de criar atmosferas através de traços, cores e texto. Acho incrível a capacidade desses artistas em dar expressão aos personagens. Acho que tento "roubar" um pouquinho disso para minha poesia. No poema Meu Herói:
Pinto as unhas
os olhos
e o coração de preto
Encho o pulmão de fumaça e ar
esperando o dia
em que o Batman
vem me salvar"
trabalho este arquétipo do herói, que na HQ é tão presente. Todos nós temos momentos em que um herói se faz necessário. E quase sempre esse herói somos nós mesmos. Todo ser humano é herói todo dia. Todo mundo se salva de si.
Com quantas metáforas se faz um poema?
Às vezes com mil, às vezes sem nenhuma.
Por que você escreve em inglês? A pátria não é a sua língua?
Minha pátria é o universo. Minha pátria é o tudo. Escrever em inglês e francês é muito interessante, porque procurando a estética do som em outra língua eu consigo chegar a imagens, idéias e emoções que em português eu não chegaria. Mas claramente a língua portuguesa é infinitamente mais precisa do que a inglesa, o que enriquece qualquer escrito.
Billie Holiday num rádio de pilha é o pitoresco do contraste? Fale sobre o poema.
Este poema nasceu de um momento de solidão, quando no rádio tocou a Billie e me senti melhor. Um pequeno renascimento dentro de um dia morto. Ele fala de como as pequenas coisas captam as grandes também. Tudo está interligado. É como um anúncio de cerveja com a atriz famosa no bar mais obscuro do interior do estado mais distante. E que alguém sempre vai chegar até você. Seja do jeito que for.
Tem alguma epígrafe que o acompanhe pela vida?
Não
Qual o papel do escritor na sociedade?
Traduzir emoções.

(2002)

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