Entrevista com:

- Gisela Rao -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão para o Balacobaco

Gisela Rao já esteve no Jô 11 e 30. Foi na Marília Gabriela. Só faltava o Balacobaco. Ela deu, no bom sentido, uma papeada (via e-mail) comigo . Autora de Sex Shop, livro onde conta histórias sexuais, Rao, de 33 anos, paulista, publicitária e redatora virtual destilou humor e ironia, numa entrevista onde corrigiu o entrevistador, criticou os poetas, falou palavrão... Ah, aviso aos moralistas e pudicos: depois não digam que eu não avisei...

Quando descobriu-se escritora? Qual o primeiro livro que leu? Quais os livros influenciaram a sua formação? Com que se inspira para escrever? Como é o seu processo criativo? Joyce é um gênio, o simples é genial ou ambos são geniais? E Henry James?

Li muito pouco. Escrevo desde pequena. Minha forma de me expressar sempre foi a escrita. Primeiro livro? Gostava muito de Edgar Allan Poe e Gabriel Marques. Me inspiro observando o cotidiano. As pessoas me contam coisas. Qualquer coisa me inspira pra sexo/humor até uma caixa de palitos de dentes. Não li Joyce. Não li Henry James. Serve Henry miller?

Qual o melhor caderno cultural entre os jornais brasileiros? Por que? Quem é o escritor brasileiro? Como faz para viver de literatura? Você é o máximo, se acha assim?

Gosto da ilustrada. É mais facinho. Amo Nelson Rodrigues. Não vivo de literatura. Vivo de publicidade. Sou publicitária, não me acho o máximo. Já me achei e não me levou a nada. O máximo são os seres iluminados que salvam vidas ou que criam músicas maravilhosas ou coisas do gênero.

Como você vê a pós-modernidade? Como vê a informática na literatura? O livro vai acabar? Já escreveu algo sobre a internet? Qual o futuro da literatura? Será que tornar-se-á verdadeira a frase do Warol abre os trinta segundos de fama?

Não sei nem o q é modernidade. Informática, internet, é democracia. Gosto disso. Tenho uma coluna sobre internet na http://www.zaz.com.br/hiperatividade. Cada vez mais gente vai escrever livros: mais quantidade, menos qualidade; coitadas árvores (matéria prima). Pessoas se preocupam demais com a fama. Isso não leva a nada: ser um escravo do ego. (Ela me corrige) Ele disse quinze minutos, não 30 segundos ;-)

O que pensa de Drummond, Cabral, Geração de 45? Qual o poeta predileto (brasileiro e estrangeiro)? Já escreveu poesia? O que pensa da polêmica poesia x letra de música? Por que é tão difícil publicar e vender poesia no Brasil? Teve muita dificuldade para editar o primeiro livro?

São todos iluminados. gosto de Fernando Pessoa e Caetano Veloso (poeta). Já escrevi poesia concreta. não conheço essa polêmica. A maioria das poesias são chatas e as pessoas acham q poesia nao serve pra nada. Não procurei nenhum editor, procurei os amigos q tinham uma editora. Só escrevi um livro, Sex Shop. Gosto do vampiro que quer um felaccio antes de morrer.

Você tem alguma dificuldade de cumprir normas estabelecidas?

Não tenho normas estabelecidas, só não posso falar palavrão em alguns programas de tv. Isso é chato.

Você escreve sobre sexo. Há diferença entre escrever sobre sexo ou outro tema qualquer?

Sexo é mais divertido

Escrever sobre sexo é algo menor?

Pra mim não, sou suspeita

Rimbaud escreveu até os vinte anos, acabou a época dos jovens gênios?

Conheço jovens gênios de outras áreas

Você teve que vencer alguma barreira para tornar-se escritora?

Catolicismo careta. O medo de ser feliz

Qual a principal característica deve ter um bom escritor?

Perspicácia. Poder de observação.

Que conselho daria para quem está começando?

"Não desista. Nunca, nunca, nunca" Churchill

Qual o papel do escritor na sociedade?

Anti stress.

Que pergunta gostaria de fazer e ninguém ainda lhe fez?

Por que menina não pode falar caralho, alto, em público?

(2002)