A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Fred Matos

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- Fred Matos -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


O Poeta baiano e contista Fred Matos, escreve versos desde a infância, mas somente quando começou a freqüentar as listas literárias da internet animou-se a publicar, tendo lançado "Eu, Meu Outro", em 1999, já aos 47 anos de idade. Foi publicado também nas antologias "Horizontes" da Editora Poesia Diária, "InsPiração Erótica" da Editora Literarte e no Volume 2 do "Painel Brasileiro de Novos Talentos" editado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores. "Anomalias", o livro que lança para comemorar o seu cinqüentenário, é uma seleção dos poemas que escreveu nos últimos três anos.

Ato do Verbo é um poema conciso. A concisão é uma tentativa moderna de se fazer o poema?
Creio que o bom poema é amálgama entre forma e conteúdo, posto isto, acho irrelevante qualquer tentativa de datação ou de classificação. Ato do Verbo é um poema conciso porque eu não precisava de nenhuma palavra a mais, e não havia nenhuma que ao meu juízo pudesse cortar, para dar ao José Félix, a quem o poema é dedicado, aquele toque. Por outro lado, é útil lembrar que a concisão não é conquista recente.
Por que o título Anomalias para o livro?
Primeiro porque a minha poesia é quase sempre resultado de uma viagem ao meu inconsciente, ou a um pseudo inconsciente coletivo de que me aproprio, e isto me parece uma atitude anômala. Também, porque, contrariando o que o costume recomenda, eu quis um livro sem unidade formal e/ou temática, onde pudesse misturar um soneto à Petrarca com formas menos lineares, como Efígie por exemplo, que é um jogo de amarelinha, e isto pode ser considerado anômalo, como anômala é a própria vida, que não costuma se subordinar aos desígnios da razão.
Por que o léxico anoréxico foi o que restou na sua poesia?
Porque sou produto do meu tempo e do meu espaço e neles, apesar da abundância de informações, há um brutal empobrecimento vocabular, mesmo entre os indivíduos de maior escolaridade.
Em Meus eus o poeta termina dizendo "pecamos". Qual o maior pecado para um poeta?
Talvez o maior pecado do poeta seja escrever para meia dúzia de outros poetas havendo coisas muito mais prazerosas e saudáveis pra fazer. Talvez seja bancar a edição dos seus poemas apenas para prestar um tributo ao ego, pois é raro que consiga vender o suficiente para pagar os custos de produção. Mas, pensando melhor: o que é pecado senão aquilo que os usos e costumes estabeleceram como paradigma de comportamento?
Qual muralha Cronos lhe deu como punição?
Aquela que me separa daquele que fui antes de perder a capacidade de conversar com os bichos, com as plantas, com as crianças, com os astros.
Quem é o escritor brasileiro?
O escritor, brasileiro ou não, é um profissional do entretenimento e, exceto pelo fato de ter imaginação fértil e domínio da linguagem, é um indivíduo igual aos outros da espécie humana. Portanto o bom escritor não é necessariamente o de melhor caráter ou propósitos, é o que tem maior domínio técnico.
Qual uso faz das listas de discussão da internet?
Já fui bem mais ativo nas listas que atualmente. Quando eu tinha maior disponibilidade as listas funcionavam como combustível para o exercício do verso. Muitos poemas do Anomalias foram escritos "on line" em diálogo com outros poetas. Atualmente têm funcionado para manter abertos canais de comunicação com muitos amigos virtuais que as listas me legaram.
Tem alguma epígrafe?
Por não lembrar de outra melhor fico com o último terceto de um soneto que publiquei no "Eu, Meu Outro":

Viver é como navegar sem rumo
e ser feliz é enfrentar o mar
e na tempestade não perder o prumo.
Para que serve a poesia?
Pode ser que não sirva pra absolutamente nada, mas gosto de pensar que sirva para a perpetuação do idioma. No que se refere a mim, serve para economizar com analistas.
Qual o papel do escritor na sociedade?
Sendo um cultor da palavra, o escritor tem a função de manter viva a palavra escrita.

(2002)

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