A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Fernando Bonassi

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- Fernando Bonassi -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Fernando Bonassi nasceu em 1962, é cineasta (dirigiu os filmes de curta metragem "Os Circuitos do Olhar"; "Faça Você Mesmo", "O amor Materno" e "O Trabalho dos Homens"), roteirista de vários filmes de curta e longa metragem ("Os Matadores", "Castelo Ra Tim Bum", "Sonhos Tropicais") e de programas de TV (Mundo da Lua, Castelo RA TIM BUM) e escritor (O Amor em Chamas - contos, 1989, Ed. Estação Liberdade; "Um Céu de Estrelas" - romance, 1991, Ed. Siciliano; "Subúrbio" e "Crimes Conjugais" - ambos romances, de 1994 e editados pela Scritta).

A adaptação cinematográfica do romance "Um Céu de Estrelas" foi dirigida por Tata Amaral e filmada em 1995, com roteiro de Jean Claude Bernardet e Roberto Moreira (Prêmio de melhor filme nos Festivais de Biarritz, Brasília e Trieste em 1997). A adaptação teatral do mesmo romance foi dirigida por Lígia Cortez em 1996 e ganhou o prêmio de melhor texto na Jornada SESC de Teatro.

Em 1996 são lançados "100 Histórias Colhidas na Rua", contos, pela Ed. Scritta e o romance infanto-juvenil, "Tá Louco", pela Ed. Moderna.

Em 1997 é publicado o romance "O Amor é Uma Dor Feliz", pela Ed. Moderna e o livro infantil "Uma Carta Para Deus", pela Ed. Formato.

Seu romance Subúrbio teve os direitos comprados pelo Deutsches Schauspielhaus de Hamburgo, Alemanha. A adaptação teatral estreiou no dia 04 de abril de 1998.

O filme de curta metragem "O Trabalho dos Homens" recebeu os seguintes prêmios no Brasil em 1998: melhor roteiro no Festival de Cinema do Ceará e no Rio Cine Festival, além dos prêmios de melhor roteiro, melhor direção e melhor filme no Festival de Gramado.

Tem contos publicados em antologias na França e Estados Unidos.

O livro infantil "Uma Carta Para Deus" será lançado no mercado de língua alemã no ano 2000 (Midelhauve Verlag).

Vencedor da bolsa do Kunstlerprogramm do DAAD - Deutscher Akademischer Austauschdienst, passou 1998 escrevendo o volume de histórias curtas intitulado "O Livro da Vida", em Berlim.

Co-autor, com o Teatro da Vertigem, da Peça Apocalipse 1,11, em cartaz no Presídio do Hipódromo, em São Paulo

Autor da peça "Preso Entre Ferragens", que estreiou no dia 10/03/2000, no Teatro Ruth escober, em São Paulo (com Aury Porto e direção de Eliana Fonseca).

Encontra-se, juntamente com Victor Navas, escrevendo a adaptação cinematográfica do livro de Drauzio Varella, "Estação Carandiru", para a direção de Hector babenco.


Como é fazer parte da antologia com os melhores contistas brasileiros do séculoXX?
Fiquei lisonjeado pra caralho. Achei legal esse Italo Moriconi, que não conheço, ter emprestado o prestígio dele pro meu texto.
Você escreve textos curtos e consegue nocautear o leitor. Como prepara o seu direto de direita? O que deve haver num texto de Fernando Bonassi?
Coloquialidade e a maior sofisticação possível no uso da língua. Pra mim, essas duas coisas são complementares.
Qual deve ser a importância da teoria literária para o escritor?
Nenhuma.
Dizem que um bom romance só depois dos quarenta anos de idade. Isso é uma bobagem ou é o que acaba mesmo acontecendo?
Não é verdade. Bom romance é romance escrito com gana, em desespero, como se nada mais pudesse ser feito naquele momento que não a própria escrita... e isso é possível em qualquer idade.
Quais são as dores e as delícias de ser escritor? O que faz um escritor para sobreviver no Brasil?
As dores: ganha-se pouco. As delícias: exprime-se, alivia-se da falta de sentido das coisas tolas desse mundo. Minha estratégia de sobrevivência como escritor é estar aberto à encomendas e em qualquer linguagem (livros, filmes, peças, vídeos e o que mais vier).
A folha em branco sempre foi um desafio para o contista. Hoje o escritor fica diante de uma tela de computador, igualmente branca. As angústias são as mesmas?
A angústia não evolui. A angústia é... ou está, conforme o tempo de vida dela. Tento não sucumbir aos brancos, que sempre acontecem. Procuro escrever sempre, mantendo a coisa em forma. Se bem que um bom Lou Reed na vitrola faz qualquer crise de criação desaparecer pra mim...
O que a sua escrita tem de cinematográfica?
Talvez uma certa concisão típica de rubricas de roteiro. E, com certeza, ênfase na descrição. A descrição desses fenômenos surrealistas da tragédia brasileira. A desgraça me comove e nós somos bons em desgraça. As coisas que acontecem são muito mais interessantes que a minha imaginação.
Caso fosse resumir o que 100 COISAS diz em uma frase, qual seria?
Que puta confusão, hem?!
Caso ocupasse um cargo importante e pudesse mudar o quadro político brasileiro, quais seriam as suas primeiras ações na área da cultura?
Desculpe, não dá pra te responder. Jamais aceitaria esse tipo de cargo. Não quero me colocar nessa posição e tenho muita desconfiança de quem o faz.
Por que livro não vende no Brasil? (Não vale dizer que é o preço, disco é mais caro e o EXALTASAMBA está vendendo demais).
Livro não vende no Brasil porque essa elite lixo não quer perder sequer os anéis, pagando um mínimo de imposto e distribuindo a renda pela Educação do Brasil. Problema do preço, pra mim, nem é tão importante. Problema é que o livro não é um valor (cultural, político, moral) pra maioria da população. Isso se aprendia na escola, quando havia.
Qual a responsabilidade do escritor no negócio LIVRO. Textos cifrados podem atingir um povo despreparado como o nosso?
Claro que há muito lixo facista por aí, especialmente nessa literatura tipo "empresário-zen-genial", mas não acredito que um texto possa ser diabólico assim, como sua pergunta sugere. Quanto à responsabilidade do escritor, te diria, que, isso nunca foi uma questão pra mim. Aliás, responsabilidade e arte não combinam. E eu quero crer que sou um artista.
Qual uso faz da internet?
Troco correspondência eletrônica e faço pesquisa pros meus textos.
Tem algum mote que o acompanhe? O amor é uma dor feliz?
Essa frase é a minha oração pessoal:

Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos. Há um ano, há seis meses, eu pensava ser um artista. Não penso mais nisso. Eu sou. Tudo quanto era literatura se desprendeu de mim. Não há mais livros a escrever, graças a Deus.
Henry Miller - Trópico de Câncer
Qual o papel do escritor na sociedade?
Se é que tem mesmo algum... bem, diria que é confundir, criar problemas. Promover a ampliação das fronteiras morais e políticas (no momento fronteiras mesquinhas, curtas, medíocres) nas quais vivem os habitantes do planeta.

(2002)

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