A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Elaine Pauvolid

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- Elaine Pauvolid -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Nasci em Teresópolis fui registrada no Rio de Janeiro com Elaine Pauvolid Corrêa. Quando me casei meu nome passou a ser Elaine Pauvolid Corrêa Pereira. Assino desde 1991 Elaine Pauvolid. Meu nascimento foi no dia 19 de dezembro de 1970.Fiz Psicologia na UFF de 1989 a 1994 quando me graduei e prestei concurso público. Na época em que estava na universidade estudei muito filosofia com Cláudio Ulpiano. Obtive uma bolsa de iniciação científica com uma orientadora do departamento de Letras, Maria Elizabeth Velloso Porto. Apresentei trabalhos na faculdade de Letras. Passei a ser funcionária pública federal desde 1995.Iniciei aulas diária de canto lírico em 1993, queria seguir esta carreira. Estudei 7 anos até perceber que era um sonho impossível. No início os professores pensaram que era mezzo-soprano, hoje paira a dúvida se sou mezzo ou soprano. Hoje participo de um coral.

Em 1995 comecei o mestrado no IACS da UFF em "Ciência da Arte". Em 1997 não pude continuar e não fiz a dissertação. Lá estudei, entre outras coisa, teoria teatral e um importante teórico para os escritores que foi Gaston Bachelard.

Lancei meu primeiro livro de poesias em 1998 pela editora 7 Letras, Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela... Mandei quatro livros para lá e me chamaram. Queriam publicar dois. Como era co-edição, só tinha dinheiro para um. Escolhi o Brindei com mão serenata o que sonho que tive durante minha noite-estrela..., para respeitar uma ordem cronológica.

Em 1999 comecei a colaborar como resenhista literária para o Jornal O Globo, JB, e Jornal do Commercio.

Em 2000, a convite de Cleide Barcelos, relancei meu primeiro livro no Casarão Hermê com um grande recital e com abertura de um show de dança espanhola. Participaram alguns poetas amigos convidados como Alexei Bueno, Helena Ortiz e Rosália Milstajn que leram minhas poesias e as deles.

Em 2001 criei o evento de poesia e prosa Sarau João do Rio, o primeiro no Rio de Janeiro a incluir contos nos saraus.

Criei o projeto Novos Sentidos e o evento homônimo, só de poesias, em 2001.

Colaborarei como apresentadora no III Festival Carioca de Poesia no teatro Gláucio Gil no ano 2001 e numa apresentação da Elisa Lucinda no Casarão Hermê em 2001.

Entrevistei para o Jornal do Commercio o ilustrador Rui de Oliveira.Para o site falaê o poeta Chacal.Para o jornal O Globo a poeta Thereza Christina Motta.Para a revista do Centro Cultural da Justiça Federal o grupo de poesia A Voz do Verso, organizado pelo poeta Luiz Carlos Lima e para o Aliás o poeta e músico Löis Lancaster.

Colaborei com a revista virtual Agulha de Floriano Martins e Cláudio Willer e com diversos sites de cultura falando sobre teatro e literatura, como o de Soares Feitosa, Jornal de Poesia.

Fui cronista do Jornal da Tarde com Editoria de José Nêumanne Pinto em 2000.

Participei das seguintes antologias:
Poemas Cariocas, (ibis libris)
Santa Poesia (MM Comunicações, Casarão Hermê)
Poetas em Ação (organização de Cláudia Luna no projeto pró criança cardíaca)
Caderno de Poesia 29(Oficina Editores)
IV Nau Literária(Komedi)- com o conto Letícia
VI Nau Literária(Komedi)- com o conto Antonia
Possuo textos de ensaio e poesia publicados na revista Poesia para Todos(Edições Galo Branco)
Escrevi o prefácio do livro de Albertus Marques, Aqui dentro & 4 Cantos + Zen quase haicais, do livro de Löis Lancaster Jamal e fui convidada para prefaciar o mais recente e-book do poeta Fabio Rocha.
Helena Ortiz publicou poemas meus no Jornal Panorama da Palavra.
Participei por diversas vezes dos programa radiofônico Debates Culturais coordenado por Alessandro Lira Braga.Criei e edito a revista de cultura Aliás , www.almadepoeta.com
Participei como convidada do Forum Poesia na UFRJ no ano de 2000 e 2001
Participei como convidada no evento de poesia A Voz do Verso organizado por Luiz Carlos Lima em 2002. Apresentei-me para alunos do curso de italiano da UFRJ convidada por Marco Lucchesi.
Participei como convidada em quase todos os eventos poéticos do Rio de Janeiro.
Lancei meu segundo livro dia 16 de julho de 2002, Trago, com prefácio de Gerardo Mello Mourão
Ano que vem pretendo lançar meu terceiro livro de poesias. Ainda não sei como.


Resenha literária deve ser feita apenas por catedráticos de universidades?
Sou meio suspeita para responder porque tenho uma história pessoal que se não tem a ver diretamente com isso, envolve a questão que colocou. Eu tinha projetos de ser professora de universidade, estudava para isso. No entanto, em dado momento, percebi que não queria passar o resto de minha vida debatendo sobre o método cartesiano ou defendendo Lacan ou Spinosa. Preferi seguir um outro caminho, dedicar-me ao canto lírico, à poesia, à escultura e à pintura. No meio acadêmico existem linhas, apóstolos daqueles ou de outros teóricos, pessoas que carregam idéias alheias como se fossem ideais irrefutáveis pelos quais precisam lutar. Mais do que passar conhecimento, os catedráticos, os professores adjuntos, os próprios alunos vivem o grande jogo de quem está certo. E ganha quem melhor usar as palavras. Ela funciona como uma grande arena, onde a estruturação do discurso é a arma, o alvo, a armadura... Não acho isso ruim, é lúdico, é humano, é cultural. No entanto, muitas vezes a verdade fica em segundo plano e a enunciação em primeiro. Respondendo a sua pergunta, acredito que as resenhas também possam ser escritas por professores, mas de forma alguma apenas por eles. No meu entender, a pessoa para ser resenhista precisa de uma relação muito forte com a escrita. Mais do que regras ou teorias, a sensibilidade é o que conta. Escritores, se pensar numa escala de capacitação, seriam os mais indicados. Katherine Mansfield, por exemplo, escrevia muitas resenhas. Ganhava seu sustento basicamente dos artigos que escrevia para jornais. Que será de nós escritores, se até este meio de subsistência nos for negado? E, depois, negado por quê? Alguém que escreve seriamente precisa estudar teoria literária, assim como um pintor que quer dizer algo com seus quadros precisa, antes de tudo, saber o que é uma escala de cores, que a parte inferior do quadro pesará sempre mais, que existe algo chamado perspectiva... Para arrematar: catedráticos e escritores podem fazer belas resenhas. A entrada da universidade no jornal é uma coisa ótima, mas fechar a porta para os escritores é no mínimo sintomático. Uma perversa forma de evitar que a arte seja apresentada como ela é.
Em que o fato de ter estudado canto lírico ajuda na sua poesia?
Acho que a escultura e a pintura influenciam muito mais, porque também quis ser pintora ou escultora. O canto, é uma linha de mão dupla para mim. Estudava os gregos quando fui afetada por vontade de fazer sons. Não sei explicar, mas a Teogonia, a Odisséia, a Eneida, me atiraram ao canto lírico como se eu fosse um projétil. Foi a poesia que me jogou lá, portanto. Não o contrário. No entanto, na minha poesia, você vai encontrar muitas referências ao canto lírico. Em Trago há pelo menos um poema que toca neste assunto.
Como é o trabalho da poeta e promotora de eventos literários?
Desde 2001 que não promovo eventos literários. O último foi Novos Sentidos na livraria Beringela. Este meu segundo lançamento foi uma mistura das duas coisas, da minha poesia em Trago e dos recitais, pois houve abertura com Geraldo do Norte, e poetas que convidei para recitarem suas próprias poesias. Quanto à pergunta acho que o trabalho de poeta e de promotora de eventos literários nunca se confundiram em mim. Quando organizo um evento penso apenas nos convidados. Dou todo meu tempo a eles e ao público. Para dizer a verdade, quando sou organizadora de uma coisa assim fico atenta a todos os detalhes relevantes da platéia e do convidado. Tento e, modéstia parte, consigo, manter tudo uma ordem, fazer um ambiente democrático, impedir que inimizades ou vaidades impeçam alguém de falar, levar cultura para quem não tem acesso a ela. Sempre são gratuitos estes meus eventos, se eu puder escolher assim. Realmente, acho que nesses momentos sou inteira a organizadora. Esqueço, muitas vezes, que sou poeta.
Por que resolveu fazer um livro por consignação e com todas as minúcias que o seu tem?
Porque eu tenho uma enorme quantidade de trabalho pronto e se fosse esperar me editarem novamente enlouqueceria. O livro quando acabado precisa circular, se não torna-se um antro de demônios. Legião de inascidos, os poemas nunca lidos. Esta frase me surgiu quando conversava sobre o lançamento que pretendia fazer com o Ricardo Alfaya. Acho que ela responde a sua pergunta. Foi quando eu a escrevi ao Ricardo que ficou mais claro aquele meu projeto. Quanto às minúcias foi por respeito ao leitor e a minha poesia. Não quis jogar qualquer coisa acreditando apenas na poesia que estava ali, que ela sobreviveria. Arrisquei muito, mas estou satisfeita.
Para que serve a poesia?
A resposta à pergunta anterior responde indiretamente a esta. Poesia serve, para mim, para colocar fora de mim a maneira como o mundo se manifesta em mim. Mundo chamo tudo: pensamentos, acontecimentos, sentimentos... Fazendo isso reestruturo-o para mim e para o leitor. A poesia faz a roda girar. Por isso quando se diz que arte é inútil como um grande achado filosófico eu discordo e digo que é uma coisa fundamental em qualquer sociedade. Sem ela não sei como iria agüentar o peso dos fatos arbitrários que somos capazes de cometer como seres humanos. Ela é muito útil e ainda pode ser mais.
Quem é o escritor brasileiro?
Eu, você, as pessoas que estão nos lendo agora. Para defini-lo poderia usar um nome muito importante para o teatro, que foi Nelson Rodrigues. Como escritor de teatro sua importância para o Brasil é irrefutável. Mas falo dos contos, eles são primorosos. O escritor brasileiro é uma pessoa que estudou o suficiente para saber citar filósofos nas entrelinhas, uma pessoa com enorme dor por viver num país como o nosso e com uma intensa alegria por viver num país como o nosso. Acho que estas são características de nossos escritores. Clarice Lispector, apesar de naturalizada brasileira, é um bom exemplo, Mario de Andrade, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa (que não citava filosofia, fazia de verdade) para citar alguns dos nossos clássicos são outros.
Com quantas metáforas se faz um poema?
Uma. A relação que o poeta mantém com o mundo. As outras são metáforas internas. O poema é uma metáfora.
Quando e por que criou o Aliás?
No final do ano 2000. Por uma vontade incontrolável de me comunicar com os outros poetas. De registrar e analisar os eventos de poesia que não paravam de pipocar e ainda pipocam. A idéia era fazer algo interativo onde eles escreveriam em espaços vazios e remeteriam a todos. Tanto que começou como Panfleto Interativo de tiragem ínfima, porque era impresso e distribuído. Depois tornou-se o que é hoje e eu adoro fazer aquilo.
Qual uso faz da internet?
Grande portal do mundo. Utilizo como um lugar em que posso saber a qualquer hora a quantas anda nosso mundo.
.Tem alguma epígrafe? Qual?
"Os homens só são verdadeiramente homenageados depois de mortos. Isso porque os que ficam precisam se sentir superiores de algum modo, precisam conceder" fala de um personagem de Clarice Lispector no seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem ( é mais ou menos isso que está no livro se bem me recordo) É uma coisa que não consigo me esquecer.

(2002)

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