A Garganta da Serpente
Entrevista com Cobra entrevista com nossos autores
Entrevista com:

Daniel Pellizzari

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- Daniel Pellizzari -

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão nosso habitante para o Balacobaco


Como surgiu o nome Livros do Mal?
Numa conversa entre eu e o Galera, com o Pilla desenhando ao fundo. É um nome muito bom, não é? Tem várias interpretações e chama a a atenção. Também quebra um pouco a seriedade anal-retentiva, a pseudo-respeitabilidade e a monotonia bege que geralmente as pessoas associam à literatura e, principalmente, aos escritores.
Qual a parte do latifundiário da literatura cabe ao Livros do Mal?
Nunca pensamos nisso. Estamos no cenário, fazendo as coisas do nosso jeito, e a resposta está sendo boa. Isso nos deixa felizes, mas é só. Não temos grandes planos, só um pequeno plano grandioso.
Como é ter vindo da internet e agora estar falando para o Daniel> Brasil todo via programas de TV?
Também não pensamos nisso. A gente não toma muito conhecimento de um "público", essa é uma idéia que gostamos de manter bem vaga. Qualquer pessoa que saiba ler faz parte do nosso público, e nosso discurso não mudou substancialmente desde o início do CardosOnline [o e-zine no qual escrevíamos].
Qual a diferença entre trabalhar em livro papel e em e-mail (plataformas www)?
Para escrever, nenhuma.
Qual o tipo de escritor querem na Livros do Mal?
Alguém cujo trabalho a gente leia e pense "quero ver isso em livro".
O que fez vocês montarem uma editora e não uma banda de rock?
Talvez o fato de sermos escritores e não músicos tenha contado bastante. Mas, pensando bem, o Galera tem uma banda de um homem só chamada A Large Denial. Juntos temos uma banda conceitual [que terminará no dia em que se marcar o primeiro ensaio] chamada Maldita Cocaína. E bem, eu toquei em várias bandas de 1988 a 1996, brincando com black metal, grindcore, rock tosco e sleaze rock.
Como é começar por onde muitos terminam: os programas de Tv e os jornais da grande mídia?
Não pensamos muito nisso.

O fato desta resposta aparecer pela terceira vez é muito significativo: nós realmente temos esta postura de não tomar conhecimento. Nos limitamos a fazer as coisas, sem pensar muito em supostas dificuldades. Temos algumas idéias sobre o que queremos e vamos em frente, só isso. Toda mídia é bem-vinda, desde que não tenhamos que desvirtuar nossas idéias. Mídia aumenta o alcance donosso trabalho, então tudo bem. Só não queremos virar palhacinhos ou macaquinhos de realejo. Aí a gente cai fora.
A livros do Mal tem alguma epígrafe?
Temos um slogan-piada interna: "Leia o novo, é trimmmassa".

Epígrafe mesmo só a que usamos em nossa proposta:

"A literatura é o essencial ou não é nada. O Mal - uma forma penetrante do Mal - de que ela é a expressão tem para nós, creio eu, o valor soberano. Mas esta concepção não impõe a ausência de moral, exige uma 'hipermoral'. A literatura é comunicação. A comunicação impõe a lealdade: a moral rigorosa, neste aspecto, é dada a partir de cumplicidades no conhecimento do Mal, que estabelecem a comunicaçãointensa. A literatura não é inocente, e, culpada, ela enfim deveria se confessar como tal." // Georges Bataille, "A Literatura e o Mal"
Qual o papel do escritor na sociedade?
Imaginar.

Porra, isso soou muito John Lennon.

Mas creio que a capacidade de verdadeiramente imaginar e de lidar com fábulas está se perdendo cada vez mais na sociedade contemporânea. Isso é assustador. O bom escritor é sempre uma espécie de guardião da fábula, e assim deve permanecer.

(2002)

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