Aprender a ler teve a magia de um rito de passagem. Mas a literatura infantil está muito ligada à cultura oral. Tenho uma espécie de devoção, desde menina, pelos contos populares, incluindo os de fada. Assim que aprendi a ler, corri para os autores que anotaram esses contos. Esse elo entre a cultura oral e a cultura escrita é talvez meu maior interesse ainda hoje.O seu site é bem sofisticado. Como surgiu a idéia de construir um sítio cibernético? Quem o criou?
Eu mesma criei e construo meu site, que não acho tão sofisticado assim. Fiz a primeira versão do Ciber-espacinho, faz três ou quatro anos, disposta a ir atrás dos meus leitores. Atrás mesmo, pois meus leitores, as crianças, estão muito a minha frente. Quero ir atrás e aprender com eles a falta de medo para brincar e experimentar. E também a liberdade no uso da cor e do traço, a espontaneidade poética da linguagem...O que o computador pode ajudar na formação de novos leitores?
O computador fornece leitura. A Internet já é a maior livraria e logo será a maior Biblioteca. Imagina uma pessoa vivendo em um vilarejo e tendo ao alcance da mão todos os clássicos de todos os tempos. O computador é essa possibilidade. Ainda é mais confortável ler nesse objeto fascinante de papel, que não trava, e obedece ao comando simples do nosso dedo passando a folha. Mas as novas mídias construirão suas próprias fascinações.Por que há pouco espaço para divulgação de literatura infantil nos jornais?
Pensando bem tem pouco espaço para a literatura em geral.Você faz a parte de ilustração de seus livros. Como é a sua relação com as palavras? E com o desenho? O que é mais "natural" a palavra ou o desenho?
O desenho é mais "natural". Tenho livro sem texto, só de imagens, de tão difícil que acho escrever.Como é o seu processo de criação?
Começar de novo mais uma e mais outra vez. Meu trabalho é dos que ficam pronto quando a gente desiste.Como conseguiu fazer um site didático e interessante para as crianças?
Fico feliz com a pergunta. Nós, da área da literatura infantil, temos em geral muito medo de ensinar. Os primeiros livros para crianças foram tragicamente didáticos e nós não queremos repeti-los. Por sinal, aproveito sua entrevista para pedir visitas, críticas e comentários de pais, professores, especialistas ou simples palpiteiros. Os simples palpiteiros são muito bem-vindos. Palpite de criança então... é uma alegria. Meu http://www.angela-lago.com.br, precisa saber como está sendo visto, para poder melhorar. Essa mídia não é como o livro, objeto perfeito, que nasceu pronto. A gente sabe como as pessoas pegam um livro e viram uma página. Assim mesmo é tão difícil desenhá-lo. Imagine aqui onde está tudo ainda a ser descoberto. No meu ABCD, que é para crianças que ainda não sabem ler, estou tentando criar uma interface sem palavras escritas. Estou apanhando.Você morou na Venezuela e na Escócia. Qual a imagem da literatura brasileira fora do Brasil?
Morei na Venezuela e na Escócia faz muito tempo. Naquela época a literatura infantil brasileira ainda não era tão expressiva. A ilustração e o texto brasileiro para crianças começaram a ser reconhecidos mais recentemente. Tenho, como outros colegas, sido convidada com freqüência a participar de seminários e congressos no exterior. Tenho também publicado e recebido prêmios em outros países. Estamos sendo vistos.Tem algum mote ou alguma epígrafe que a acompanhe pela vida?
Não.Não tenho constância para tanto.Qual o papel do escritor na sociedade?
Talvez servir de espelho, já que reflete seu tempo.
(2002)