A Serpente e o Vaga Lume
(Bartira)
Havia um bosque fechado,
bem à beira de um riacho.
Era lugar sossegado
e a vida, acima e abaixo
era plena e variada:
muita coisa pelo solo,
também muita vida alada,
mas não por isso me amolo;
ao contrário, é elevada
essa minha apreciação...
Até o bosque há uma estrada
e observo pelo chão
que a vida não se resume
àquilo que os olhos vêem,
e de cobra a vaga lume
é normal, pois, não receiem
encontrar a variedade,
que é em tudo diferente
de animais de uma cidade,
vivendo em torno de gente.
No bosque vivem as fadas
e os animais até falam;
as trilhas são encantadas,
os perfumes se propalam.
Como já foi comentado,
ali vivia a serpente,
sem causar muito cuidado,
esse tipo diferente,
até que vivia calmo:
comia de vez em quando,
depois esticava um palmo
e, ao sol ficava esperando,
a fazer a digestão,
que chegasse novamente
o momento em que, então,
dormiria em lugar quente.
E enquanto nas terras planas
a vida seguia assim,
nos ares, bem soberanas,
as aves no céu, sem fim
sobrevoavam os campos...
Mas no meio dessa mata
viviam os pirilampos.
É esse inseto que desata
durante a noite, a piscar,
emitindo seus sinais,
intermitente brilhar,
mas isso e nada mais,
sempre atrai a atenção
pela cor esverdeada,
tal trajeto de um tição,
um risco verde, mais nada,
ou então, um pisca-pisca
como o luzir de um farol
ou um laser que o céu risca,
um raio solto do sol.
Foi assim que certo dia,
por essa mata espalharam
notícia que lhe traria
espanto, pois o deixaram
(nosso herói, o vaga lume)
com problemas anormais:
a serpente, seu costume,
caçar outros animais,
começou a perseguir
o brilhante vaga lume.
Não pensava em desistir
e o pequeno, sem queixume
fugia, dia após dia...
Mas a cobra não cansava:
quanto mais ele fugia
mais atenta ela ficava...
Até que um dia, o infeliz,
já sem forças pra luzir,
encara a serpente e diz:
- Preciso lhe perguntar,
três coisas quero saber.
Antes que chegue o meu fim.
peço para responder,
por que escolheu a mim,
pois pirilampos, eu digo,
não alimentam serpentes...
E ela respondeu: -Amigo,
eu não abro precedentes,
mas é verdade, eu não como
animais iguais a ti...
E o vaga lume, em assomo:
-Pois é, eu já percebi,
mas agora eu lhe pergunto
se já lhe fiz algum mal...
Sem desviar-se do assunto,
respondeu-lhe o animal:
-Mal, nunca tu me fizeste,
esse não é meu motivo;
e o vaga luma, num teste,
pois queria ficar vivo:
-Mas então, diga o porquê
da inútil perseguição;
eu não sirvo pra você,
vou causar indigestão...
Mas ela logo lhe disse,
em seu lento sibilar,
sem emoção que a traísse,
sem mesmo se amofinar:
-Pirilampo, é isso só,
nunca eu liguei para ti,
nem por isso tenho dó
do que acontece aqui.
Então, eu digo a razão,
e agora, vou já contar:
-Eu não suporto mais não
é ver-te sempre a brilhar...
(09/12/07)