Passei milhares de anos recluso entre as paredes do sotão de uma mansão em Ponketeatweill,. Se não tivesse fixado um objetivo, essa reclusão seria uma dura pena, mas foi leve e plena. Foram anos degustando o sedutor liquido espumante e inebriante que me chegava de todas as partes do mundo, trazidos por magos, serafins, querubins, reis e guardiões. Era mesmo uma fixação. Os anos passavam, minhas barba crescia, o mundo girava, a terra tremia e eu, ali, buscando incansavelmente, por todas as pistas e possibilidades que me fizessem sair nobremente daquela reclusão. Era preciso estar absolutamente certo de que alguma coisa havia mudado e que valeria debandar de fato. Mas dias e noites passavam sem que me passasse pela cabeça a mínima ideia de desistir dessa busca. Tinha que encontrar seu final. Eis que no inicio de uma madrugada, avisto pela pequena fresta da claraboia, por entre a lua e as estrelas, a chegada e o pouso de uma inebriante donna ruiva, nua, linda, comandando com agilidade a escarlate crina de um alado alazão. Sua fragrância exalava uma magia de incomensurável intensidade, contudo, algo que ela portava me chamava a atenção. Reparei que em meio as oferendas trazidas havia o liquido dourado acompanhado de um proposta tão diversa que podia me tirar definitivamente dali. Finalmente, ao sentir o sabor exato daquele liquido mais exato ainda, ao ver que algo tinha mudado realmente, ao balbuciar palavras intangíveis de satisfação sem mesmo saber como estava conseguindo articulá-las . Parti naquele voo ébrio que me trouxe bem aqui onde você está. E agora que estamos juntos no prazer dessa reclusão pergunto: a vida pode ser boa? E eu mesmo respondo: pode, pode sim senhor. Aproveite-a!