Dois fumantes à mesa de um bar à beira do cais, à beira
da cidade e à margem de um rio e ...
- Elvis Melvin ou Melvin Elvis ?
- Não seria melhor Memphis Elvis ?
- Não sei, talvez. Daria mais prazer em homenagear o meu avô Melvin,
foi ele quem me criou, devo-lhe isso.
- E ele ainda é vivo?
- Não, morreu em combate.
- Na guerra?
- Não, no boxe. Perdeu ao último assalto, morreu de knock out,
o único caso na história da modalidade. (bebe mais uma dose...)
- Humm.... (bebe uma dose...) Mas junta-lo a Elvis não faz muito
sentido, acho eu. Ele costumava ouvir o "Rei" ?
- Não, nem por isso. Só tinha ouvidos para o Hank Williams, o
único artista branco que apreciava. Velho excêntrico.
- Então proponho outra escolha, que tal: Hank Melvin?
- Não! meu padrasto chama-se Hank e não o suporto. Escute, Elvis
era fã de Hank Williams, consegue perceber agora a conexão ? Os
dois tinham algo em comum: o velho e bom Hank Williams ! É um sinal,
acredito nisso ! (bebe outra dose)
- O bebé é branco ou preto? (bebe meia dose...)
- Branco.
- Ah, então não tem porquê chamar-se Melvin. Pois esse nome
é dado, sobretudo, a negros. Um menino branco chamado Melvin é
esquisito, voto Elvis.
- Quem disse a ti que se trata de um menino? Vou adoptar uma menina.
- Com esses nomes ? São nomes masculinos !
- Eu sei, enquanto for bebé chamo-a Melvin, ou Elvis, e depois quando
crescer um pouco e ganhar formas femininas, trocamos de nome. Posso até
propor que seja ela mesma a escolher o próprio nome, que acha?
- Humm, Peggy Lee ah! ah!...(bebe uma dose.) Eu acho é que você
deveria adoptar alguma outra coisa em lugar da criança.
- Acha mesmo? (beberica um gole) Mas preciso de um herdeiro. Meu avô
deixou-me um ginásio de boxing para manter e médios-ligeiros para
treinar. São quatro vigorosos rapazes peruanos, é óbvio
que ainda não sabem grande coisa de boxe, mas devo-lhes uma preparação
adequada, até já contratei um treinador uruguaio. Um dia hão
de vingar, tenho a certeza !
- Venda o ginásio homem! e compre uma caravana, meta lá a sua
mulher e vá numa viagem por aí afora.
- (Emborca uma dose) E por quê não contigo ? é a
ti que gosto de estar.
- Sou tua namorada, é muito diferente de se ter uma mulher a tempo inteiro.
Embora pense que você iria enjoar de mim mais rapidamente do que imagina.
Sou fora de série. (verte uma dose longamente)
- Acha mesmo? Prefere então continuar nessa condição de
amante ?
- Sim.
- Por quê?
- Por que sim. Sobra tempo para me dedicar a outras actividades, ao invés
que se estivesse contigo não conseguiria fazer nada do que gostaria.
- Dá-me um exemplo.
- Strip-tease...talvez. Seria um grande passo...
- Na tua idade? Você tem mais de 50 !
- Cale-se, tenho 48. Mas mantenho os meus atributos físicos.
- Isso não contesto, tem toda a razão. Mas consegue trabalho?
- Todos os dias acho que não. Mas ocasionalmente tenho a certeza que
ainda encontro quem queira pagar para ver o que tenho de melhor...(meia dose...)
- Eu não gostaria de ver espectáculos desses. (olha o líquido
e entorna de uma só vez)
- Por quê ??? Ciúmes é?
- Não. Se te agredissem com tomates e outras coisas... sabe como são
os homens desse lado da cidade. E além do mais, acho que seria o fim
da nossa relação, ficaria traumatizado para sempre o meu lado
machista.
- Não seja tão radical. E você não tem lado machista.
É todo machista.
- Sou francamente apaixonado por ti.
- Tolo...não me convence assim. Bebo outra por isso...
- Bebemos por nós !