Ela veio com a língua amaciando meu clitóris, e com a língua
sentiu também o perfume de gardênia que exalava mais embaixo. E
com a língua jogou-me na parede e gritou "eu te amo" daquele
jeito que só os apaixonados gritam quando fazem amor.
O vestido azul a vestia, cabia-lhe muito bem, como se fosse feito só
para as Divas, e eu, vestia um vestido Vermelho, vermelho algum, que me deixava
tão gorda e desconfortável. E a calda dele me deixa frustrada,
rolava no chão juntos com toda a poeira.
Não se preocupe querida. - acabo de derrubar uma taça de vinho
no vestido azul dela, de inveja, da mais pura e doce inveja, e ciúmes.
A língua. Presa e algemada dentro da boca, quer ultrapassar os limites
físicos e vim morar dentro da minha. Como se buscasse aquele livro que
está na ultima prateleira e os braços não alcançassem.
E a língua, essa doce vilã, jogou-me nas paredes, manchou de sangue
todo aquele vinho, e de gemidos as palavras insanas de desculpa.
Na mesa cigarros, cinzeiro, uma taça vazia e outra pela metade. O vinho
no chão, no chão ao nosso lado. Tentamos deitar no teto e escorremos
para lá. Somos duas. Duas que se mordem, que se abraçam, que dizem
"eu te amo" sem uma gota de sentimento. E ela morde no meu colar de
pérolas. As pérolas caem, o barulho delas chocando nos tacos do
chão acelera minha transpiração. E mesmo que inconsciente
eu rasgo um pouco daquele vestido azul tenebroso.
Ela usa o mesmo método, joga-me no chão do lado direito entre
gemidos e gritos abafados. Duas, quatro, oito pernas. Oito mãos e duzentos
dedos dentro de mim. Duas línguas. Duas línguas que brincam aqui
dentro. Rasgo o lado direito do vestido azul dela. Ela morde, mastiga e rasga
minha orelha. Duas gotas de sangue. Um gemido de dor. Um brinco de pérola
no chão. Unhas vermelhas que combinam com meu vestido, buscam os seios
dela, e arranho até sangrar, até gemer, até implorar. Rasgo
suas costas, seus lábios sangram com as mordidas. A taça cai da
mesinha e quebra.
Um caco na mão dela, um caco que me arranha, um caco que me perfura.
E o sangue que jorra. Mudo de posição e agora ela está
deitada em cima dos cacos pequenos. A garrafa de vinho agora na minha mão.
Os olhos se fecham e as pupilas dilatam. A garrafa de vinho quebrada no chão,
uma cabeça cortada, o vestido azul agora é vermelho. Somos iguais.