A Garganta da Serpente
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Línguas

(Wesley Antonelli)

Ela veio com a língua amaciando meu clitóris, e com a língua sentiu também o perfume de gardênia que exalava mais embaixo. E com a língua jogou-me na parede e gritou "eu te amo" daquele jeito que só os apaixonados gritam quando fazem amor.

O vestido azul a vestia, cabia-lhe muito bem, como se fosse feito só para as Divas, e eu, vestia um vestido Vermelho, vermelho algum, que me deixava tão gorda e desconfortável. E a calda dele me deixa frustrada, rolava no chão juntos com toda a poeira.

Não se preocupe querida. - acabo de derrubar uma taça de vinho no vestido azul dela, de inveja, da mais pura e doce inveja, e ciúmes.

A língua. Presa e algemada dentro da boca, quer ultrapassar os limites físicos e vim morar dentro da minha. Como se buscasse aquele livro que está na ultima prateleira e os braços não alcançassem. E a língua, essa doce vilã, jogou-me nas paredes, manchou de sangue todo aquele vinho, e de gemidos as palavras insanas de desculpa.

Na mesa cigarros, cinzeiro, uma taça vazia e outra pela metade. O vinho no chão, no chão ao nosso lado. Tentamos deitar no teto e escorremos para lá. Somos duas. Duas que se mordem, que se abraçam, que dizem "eu te amo" sem uma gota de sentimento. E ela morde no meu colar de pérolas. As pérolas caem, o barulho delas chocando nos tacos do chão acelera minha transpiração. E mesmo que inconsciente eu rasgo um pouco daquele vestido azul tenebroso.

Ela usa o mesmo método, joga-me no chão do lado direito entre gemidos e gritos abafados. Duas, quatro, oito pernas. Oito mãos e duzentos dedos dentro de mim. Duas línguas. Duas línguas que brincam aqui dentro. Rasgo o lado direito do vestido azul dela. Ela morde, mastiga e rasga minha orelha. Duas gotas de sangue. Um gemido de dor. Um brinco de pérola no chão. Unhas vermelhas que combinam com meu vestido, buscam os seios dela, e arranho até sangrar, até gemer, até implorar. Rasgo suas costas, seus lábios sangram com as mordidas. A taça cai da mesinha e quebra.

Um caco na mão dela, um caco que me arranha, um caco que me perfura. E o sangue que jorra. Mudo de posição e agora ela está deitada em cima dos cacos pequenos. A garrafa de vinho agora na minha mão. Os olhos se fecham e as pupilas dilatam. A garrafa de vinho quebrada no chão, uma cabeça cortada, o vestido azul agora é vermelho. Somos iguais.

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