As calcinhas ali no varal, choravam molhadas, cada qual vizinhas. Mas se sentiam
sozinhas e sempre dadas. Tinham cores, todas elas; Bordo, Rosa, Vergonha e Sem-vergonha.A
mais rosa delas, dizia:
- Tia. Adoro bonecas, são tão bonitas, magras, sedosas. Gulosas
essas pragas, beberam todo o chá as sapecas.
Uma que já tinha pouca linha e já passado, desses laçados
de boneca. Não era mais moleca, era bordo:
- Ai que horror! Viram só vizinhas? Aquela calcinha, de cara vermelha,
ela acha que é rainha e abelha. Desse cortiço, esse viço
feminino, de trapos pequeninos.
Pobre da Vergonha, ali tristonha, ainda sonha malícia; Que havia, aprendido
sem querer, coisa da idade precisa saber.
- Ai vergonha, ponha seus sonhos cá. Dizia Sem-vergonha com tua cor
que ninguém sabe qual é, cor de sem-vergonha.
- Tonha, não há o que sonha, cada homem sabe que não importa
cor, por sermos só pra tirar.