A Garganta da Serpente
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Comer Morar

(Victor Tales)

NHAC, NHOC, SLUP, CHUP, GLUP, CROC, PLOC, SLIP. A comida me come, chicoteia-me marcando estrias, sou um mapa da gula. Olho-me no espelho, pelo menos a parte que coube no reflexo. - Como cheguei a isso? Como? Não tenho corpo, sou deformado, tenho dois ou mais corpos amontoados um no outro me pareço com uma caixa de fezes não posso me pesar em balanças comuns, pois quando chego próximo dos 139 kg os números somem de vergonha e me deixam na dúvida se sou ou não humano, arisco que estou beirando os 300 kg, mas eu já fui magro e atlético até que eu conheci Gertrude, uma gordinha gostosinha, toda serelepe.

Gordinhas. Sempre tive preferência por elas, minha marca registrada, minhas amigas me ligavam sempre para desencalhar uma amiga gordinha que elas conheciam. Gordinhas, gordas, gordonas sem preconceito quanto mais carne melhor. Um Don Juan dos lipídios. Escrevi-me no Vigilantes do Peso, dizia que já havia sido muito gordo e que agora me esforçava para manter o peso, era como visualizar um cardápio de gordinhas lindas e carentes de todos os tipos. Era o meu Éden.

Gertrude. Um nome apropriado para gordinhas, uma menina roliça, cheia de dobras salientes, sorridente e atraente. Uma pintura viva de Boticceli. Ela. - Hoje quando subi na balança percebi que já havia perdido 10 kg e estou muito feliz! Todos batiam palmas enquanto eu queria era chorar de imaginar que toda aquela delicia agora era 10 kg menos macia. Precisava aproveitar antes que toda aquela carne minguasse de vez.

- Não posso. - Não pode? Que tal então no sábado sairmos para almoçarmos juntos? - Comida de restaurante engorda, eu só como se for em casa. - Ótimo podemos almoçar na sua casa então, que tal? Eu posso cozinhar. - Não precisa, adoro cozinhar. - Claro, preciso levar alguma coisa? - Só uma vontade de comer, tudo!

DZZZZZZZZZZZZZZZ, DZZZZZZZZZZZZZZZ! - Oi sou eu, estou aqui embaixo no portão. TLANK! - pode subir. - PIM! POM! TRIC, TROC. - Oi! - Oi! - Chegou cedo. - Eu sou uma pessoa impaciente com horários. - Eu também, sou super ansiosa para chegar sempre na hora, venha até a mesa que eu vou servir você. Ela me serviu com um prato farto de carnes e verduras, era mais comida do que eu estava acostumado a comer num dia inteira e na mesa só havia - O meu prato está aqui, mas e o seu? - Eu prefiro ver você comer, lembre-se estou de dieta. - HaHaHa, claro, claro, mas eu vou comer tudo sozinho? - Sim, eu adoro ver os homens comendo, isso me excita muito. - Pois eu sou o rei do garfo meu bem.

Milhares. - De almoços comidos sozinho, com Gertrude de plateia, criamos hábitos estranhos enquanto eu comia, ela se masturbava e eu me masturbava também. Eu comecei a gostar daquela situação confusa, era como se a comida fosse Gertrude, era como saborear os pedaços do corpo dela que sempre cozinhava as comidas mais gordurosas possíveis, óleos, cebolas, macarronadas, churrascos, massas e etc. Nos primeiros meses eu vomitava quase tudo, mas com o tempo meu estomago foi se acostumando, alargando, crescendo até caber todo o tesão que Gertrude me dava para descer goela abaixo. Meu corpo se modificou em pouco tempo, engordei 84 kg em 7 meses, minhas roupas se resumiram a uma bermuda larga e camisetas de times de futebol para pessoas obesas, como minhas pernas não aguentavam meu próprio peso passei a viver na casa de Gertrude, eu praticamente encalhei.

Magra. Gertrude ficou com um corpo digno de capa de playboy, com o tempo não tinha mais graça ver aquela magrela cozinhando para mim, a comida agora era ligth, sem sal, sem açúcar, sem gosto, sem nada. Meu tesão havia sumido, meu pênis também por consequência, o amor que sentia por Gertrude era proporcional ao peso dela, hoje com seus 56 kg bem distribuídos não consigo mais me sentir como antes. Brigávamos todos os dias, eu queria minha Gertrude de volta, mas ela estava feliz com o seu novo corpo esbelto.

Comer. Comida. - Foi o único jeito de ter Gertrude de volta.

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