Prólogo - Cidade em chamas
"Aqui estou eu de novo, faminto, sem proteção, sozinho
e ferido. Não achava que aquele dia ia me trazer tantos infortúnios.
Eu conto pra todos vocês o quê houve... E no final, se você
quiser continuar com isso, eu lhe digo; Não queria que isso tivesse acontecido...
Não queria que fosse desse jeito..."
Nossa estória começa no fatídico 11 de Setembro de 2001,
não, não é fatídico por causa daquela explosão
toda que aconteceu lá na América do Norte, é fatídico
por que tinha sido a primeira briga que eu tive no colégio; não
deu outra, apanhei igual um cachorro sem pernas. Você deve estar se perguntando
qual foi o motivo de eu ter usado um cachorro como exemplo, certo? Eu não
sei! Apenas achei que um cachorro sem pernas demonstra que eu estava indefeso!
Então, voltando à estória, naquela época eu tinha
uns 16 anos e já estava terminando o colégio, o quê é
motivo de orgulho, afinal, eu nunca tinha repetido! Mas meus amigos tinham algo
que eu não tinha; eles já sabiam o quê queriam do futuro,
tinham alguns que queriam até ser traficantes e haviam formado uma "sociedade
maconheira brasileira" que o lema era "Carpe Diem e viva a vida"
eu simplesmente não entendia! Aquelas palavras significavam a mesma coisa!
Mas voltando ao assunto, eu fui indo sem muito o quê dizer e sem muito
o quê fazer, fui apenas indo...
Capítulo 1 - O besouro na janela
Ao completar 18 anos em 2005, minha vida mudou para melhor, conheci uma menina
muito bonita chamada Lina, na verdade o nome verdadeiro dela era Eliana mas
ela o odiava e pedia para todos que a chamassem de Lina (o quê eu não
entendia, Eliana era um nome tão elegante!). Com o passar do tempo eu
fui ficando muito amigo de Lina e ela foi começando a mostrar interesse
por mim, assim como eu por ela...
-Ei, Lina, do quê você tem mais medo? -eu perguntei, temendo
que nós não tivéssemos assunto enquanto andávamos
caminho afora até chegar a minha casa onde eu queria mostrar um cd novo
da banda BOA.
-Ora, hum, esta pergunta é meio difícil de se responder não
acha? -disse ela enquanto seus lindos fios de cabelo negro balançavam
em meio à poluição gerada pelas grandes indústrias
que se alastravam São Paulo afora. Era realmente um cenário triste
de se ver, o sol, que não aquecia mais nossos corpos há algum
tempo, mostrava uma luz sombria e pacata que se estendia além do horizonte,
mapeando terrenos que não eram usados fazia um tempo já. Além
disso, eu morava perto de um terreno baldio, que era separado de minha casa
apenas por uma grade. Quando era criança gostava de jogar pedras no laguinho
enquanto minha mãe fazia a comida; era tudo tão simples! Mas agora
o laguinho secou, meus amigos não tão nem aí pra mim e
eu estou aqui do lado da garota que eu mais amo e não tenho coragem nem
de falar com ela!
Mas enquanto eu pensava nisso tudo nem percebi que ela já me olhava fazia
um tempo e uma fina lágrima escorria por minha face! Eu entrei em pânico,
afinal, um homem como eu chorando na frente da mulher que mais teria que demonstrar
ser forte! Nada passava por minha cabeça, apenas queria enxugar as lágrimas
e dar um desculpa a ela, poderia falar que um cisco tinha entrado no meu olho
ou falar que a fumaça tinha deixado meus olhos sensíveis, mas
não, apenas continuei andando sem falar com ela, de repente corri até
chegar à grade da minha casa, era só isso, entrar pela porta e
depois nunca mais sair de lá! (In) felizmente ela pegou no meu braço,
me empurrou contra as grades com seu corpo e me beijou, eu não pensei
em nada, só fechei os olhos; depois de algum tempo fiquei cansado de
estar com eles fechados e os abri, enquanto ela terminava de me beijar fiquei
olhando o besouro na janela da cozinha, ele se movimentava de um lado pro outro,
batia no vidro, caía, voava de novo para o vidro e caía de novo
sem se preocupar com o quê via ali na grade. Realmente, vida de besouro
é a melhor do mundo! Não precisa se preocupar com nada!
Capítulo 2 - A respeito da minha ignorância sobre besouros
Eu queria deixar bem claro que a última frase que escrevi sobre a vida
dos besouros foi algo mal pensado que apenas falei enquanto estava hipnotizado
pelos lindos olhos verdes de Lina (droga, arrumei outra desculpa para não
assumir meu erro de ter falado aquilo)! Para sua informação os
besouros sofrem muito em suas vidas! São atropelados por caminhões,
mexem em estrume para sobreviver, comem uns aos outros e não tem uma
mentalidade tão avançada quanto a nossa. Por isso, não
maltrate um besouro! Eles são criaturas como nós que tentam sobreviver
neste cruel e abatido mundo e o pior que eles sofrem muito mais que a gente!
Se você matou um besouro com requintes de crueldade, você não
merece ler o quê aconteceu depois do meu primeiro beijo (eu não
deveria ter contado que foi o primeiro).
Capítulo 3 - O quê vem depois do beijo?
Bem você poderia me dizer o quê vem depois, pois comigo não
veio nada! Ela me beijou e nós ficamos abraçados lá sem
fazer nada! Pensei que ia rolar sexo, mas não veio nada, apenas ficamos
abraçados, entende? Ela começou a me contar que sempre sonhara
com esse momento, que ela iria achar o cara certo e tudo mais, mas acredite
numa coisa; nem minha mãe achava que eu era o cara certo! Imagine você
tendo um filho de 18 anos que não sabe o quê quer da vida, fica
no quarto jogando videogame o dia todo, só lê o quê lhe convém
(eu diria que eu tenho um gosto refinado, variando de revistas de heavy metal,
mangás e de vez em quando uma playboyzinha só para quebrar todo
este gelo intelectual) e ainda por cima não tem vida independente! O
quê? Você acha que a minha mãe é aquele tipo de mamãe
protetora que quer que seu filho saia de casa somente aos 50 anos? Cê
tá louco! Eu acho que você não prestou atenção
no quê eu te contei até agora, não é? Não,
eu não te contarei a estória da minha mãe! Ela é
uma maníaca insana e não merece estar neste livro!.
Capítulo 4 - Tudo sobre minha mãe
Como eu vim a escrever este capítulo? Ah! Não importa, qualquer
dia eu me lembro! Bom, mas vamos ao que interessa, vamos contar tudo sobre minha
mãe (eu já vi um nome de filme assim, vocês acreditam?).
Filha de imigrantes ingleses, Dona Acácia (minha mãe) nasceu aqui
no Brasil após meu avô e minha avó terem tido uma noite
maravilhosa num... Num carro! Isso mesmo, não foi numa cama ou em qualquer
outro cômodo mais luxuoso, foi num carro! Quanto ao nome dela, eu não
tenho ideia da onde eles tiraram este nome, mas eu sei que meus amigos
ficavam brincando com o nome dela chamando-a de Dona Ak47 e outros apelidos
um tanto quanto polêmicos. Vítima de uma infância traumática
(não sei por quê, só achei que falando isso iria dar um
toque melhor para a estória!), Dona Acácia passou por diversas
provações durante sua adolescência, a primeira delas foi
ficar grávida de um motorista de táxi e desse ninho de amor surgir...
Eu! Ela nunca se casou e batalhou muito para cuidar de mim, quase casou aos
30 anos com um senhor dono de uma fábrica de chuveiros, ele era muito
rico, mas infelizmente na lua de mel ele foi encontrado morto, pendurado em
seu lindo chuveiro de ouro e cobre... Minha mãe nunca foi a mesma depois
daquele dia, ela nunca mais olhou para nenhum homem e quis que eu me afastasse
dela o mais rápido possível. Achava que eu era a maldição...
Isso era o quê ela achava... Não o quê Lina achava!
Capítulo 5 - A razão de eu ter contado (quase) tudo sobre minha
mãe
Bem, realmente eu não sei qual foi o motivo de ter começado a
falar da minha mãe! Talvez eu tomei uma dose de LSD desnecessária,
não! É brincadeira, eu não tomo drogas, para falar a verdade,
eu sou até que um rapaz saudável! Acho que enquanto falava que
não iria contar sobre minha mãe alguns aliens me abduziram e me
forçaram a contar sobre ela, também pode ser que enquanto eu disse
aquilo alguém me bateu e eu entrei num estado de choque duplo-personalizado(?)
ou eu posso ter escorregado e batido a cabeça! Não importa! Eu
dei várias explicações, todas elas são plausíveis!
Então não enche o saco e vai ler o próximo capítulo!
Mas antes de ir, eu vou dizer a verdade... Eu não contei tudo sobre minha
mãe e nem vou contar, portanto você pode esquecer o nome do capítulo
4 e inventar outro, como: "Quase tudo sobre minha mãe" ou "A
estória de minha mãe quase inteira".
Capítulo 6 - Pensamentos (quase) filosóficos sobre meu primeiro
beijo
Bom, para você achar que eu sou o máximo, irei fazer um poema
sobre meu primeiro beijo no qual demonstrarei que estou completamente apaixonado
por Lina e... É uma besteira que se você não quiser ler
pode pular! Lá vai, vou começar numa linguagem completamente apaixonada:
O primeiro beijo
O primeiro beijo nos faz humanos,
O primeiro beijo nos traz a vida.
Mas no outro segundo lá se vai a expectativa,
Ganhamos por perder e
Perdemos por ganhar.
E tudo no final acaba por acabar...
Entendeu? Não se preocupe, nem eu entendi. Apenas peguei palavras que
rimavam e coloquei numa frase embutida, não é nenhum grande verso,
mas fui eu que fiz! Se você não gostou, o problema é seu!
Não to escrevendo pra crítico mesmo...
Capítulo 7 - O motivo de não ter escrito sobre o meu primeiro
beijo filosoficamente
Você precisa de motivo pra tudo? Bem, que tal este; eu não sou
filósofo e nem quero ser, filosofia é muito chato.
Capítulo 8 - Finalmente voltando ao que aconteceu depois do primeiro
beijo
Aê, vou poder contar o quê aconteceu depois do beijo! Finalmente!
Eu tinha parado na parte que Lina e eu estávamos abraçados na
grade olhando o sol frio e seco, certo? Depois de tudo isso outra conversa rompeu
o silêncio:
-De te perder. -disse Lina com um olhar carente.
-O quê? -eu perguntei mesmo tendo ouvido e assimilado que esta era a resposta
daquela pergunta (e ainda fiz cara de ingênuo pra ela, fingindo que não
entendi!).
-Se lembra quando você me perguntou do quê mais eu tinha medo?
-Ah! Sim.
-Eu... Tenho... Medo... De... Te... Perder. E também tenho medo de você
nunca mais me amar e eu ficar sozinha mais uma vez na minha vida.
-Ah! Lina! -meu coração tinha se enchido de amor, mas não
aquele amor simples que se vai após mudarem as estações,
aquele amor que é ao mesmo tempo fraterno como de um pai e ciumento e
doentio como o de um namorado -Não importa o quê você faça
na vida, se você matar alguém eu estarei te encobrindo, sabe por
quê? Por que eu te amo muito! Muito mesmo! (um tanto quanto meloso, não
acha? Mas fazer o quê? É a vida, quando Lina estava comigo eu me
sentia bem, me sentia com vida, não ficava deprimido! O quê? Você
acha isso idiota? Bem, fazer o quê? Cala a boca e continua lendo!).
Depois de eu ter falado aquilo, ela me olhou de um jeito tão materno,
então foi se aproximando mais uma vez para outro beijo, enquanto ela
se aproximava eu fui fechando os olhos, fui fechando, fui fechando... Peraí???
Materno? Não! Eca! Que materno o quê? Ela se aproximava mais e
mais, e eu ali; pensando no olhar materno que eu nunca tive da minha mãe!
Na medida que ela se aproximava eu comecei a pensar na minha mãe, a boca
dela se movendo até tocar a minha!
-Não! Pára! Pára, por favor! -foi aí que eu percebi
que ela me olhava de um jeito estranho, de seu rosto começaram a sair
lágrimas extremamente sutis, Deus como eu amo essa garota! Ela correu
com muita raiva, sumindo. Eu até tentei correr atrás dela, mas
ela era do tipo esportivo, corria que só você vendo! E eu fiquei
ali mais uma vez sozinho, olhando o grande sol frio e seco, enquanto minha mãe
dava risadas altas e engraçadas lá da janela da cozinha, ela tinha
visto tudo! Velha safada! Por quê ela foi esquecer de morrer! Falta vergonha
nessa família!
Capítulo 9 - O passado de Lina
Calma aí que eu vou ao banheiro e depois continuo escrevendo, é
rapidinho...
Onde eu estava? Ah! Eu ia contar o passado de Lina e o motivo dela odiar tanto
o seu nome...
Eliana Martins Ferreira (Lina), nasceu no fantástico dia 11 de julho
de 1986 (pelo menos esta estória foi ela que me contou!) em uma cidade
no interior de São Paulo. Aos 10 anos mudou-se para a "cidade grande"
por uma proposta de trabalho oferecida ao seu pai (que hoje é dono de
uma fábrica de produtos alimentícios muito famosa!). Nessa época
sua mãe ainda estava viva e muito feliz por ter se mudado... Ela não...
No primeiro dia de aula quando a professora chamou seu nome pela lista de chamada,
ela acabou por não responder, pois estava conversando com uma amiga que
tinha acabado de conhecer, infelizmente esta professora era muito nervosa e
sofria de um terrível problema no coração e...
Ah! Vê aí no meu flashback imaginário:
-Senhorita Eliana Ferreira. Eliana Ferreira! Eliana! Eliana! Cadê
essa menina! -então a menina deu um leve aceno com as mãos e a
professora começou a espumar de raiva.
-Você não tem ouvido? Quem pensa que é para não responder
a merda desta chamada? Acha que é alguém especial? Hein? Sua fedelha
imbecil? Responde!
-Não senhora, eu apenas não ouvi. -disse ela gentilmente.
-Ah! Então você é do tipo que responde aos mais velhos?
Vá para a diretoria agora! -então Lina levantou e foi andando
gentilmente até a diretoria, quando ela fechou a porta ao sair, ouviu-se
um baque profundo no chão... A professora carrancuda tinha tido um ataque
cardíaco fulminante no coração, as crianças acharam
que era uma brincadeira nova e só se ouviu aquela palavra no diminutivo
que toda criança gosta de pronunciar: "Montinho!". E ficou
assim, Lina fora da sala por não ter pronunciado seu nome e todas as
crianças alegres pulando em cima de um cadáver que já estava
com os olhos virados de tanto impacto sofrido pela saudável brincadeira
do montinho...
(Nota do escritor: Lina estava na quarta série ^.^)
E foi assim que ela nunca mais quis seu nome. Bem, eu acho que esta estória
tem algumas partes erroneamente contadas por ela, mas a maioria é verdade...
Pelo menos é o quê eu acho! Ela não me contou o quê
aconteceu depois de tudo isso, mas eu também não queria saber,
apenas queria segura-la nos meus braços. Ah! A mãe dela morreu
também de infarto ocasionado pelo cigarro que ela fumava...
Capitulo 10 - O motivo de ter contado tudo isso
Desta vez eu preciso ir ao banheiro, pois da última vez eu não
fui!
O motivo? Ah, é! O motivo! Infelizmente com meu ataque de "lisergia"
sofrido enquanto minha ex tentava me beijar... Ah! Já contei! Ela é
minha ex! Infelizmente no dia seguinte ela disse que tinha corrido assustada
e que a última vez que correu assustada foi quando a professora tinha
expulsado ela da sala! Imagina; quando ela foi expulsa da classe não
quis mais seu nome, quis esquecê-lo! Agora que ela tomou um susto comigo
quis me esquecer! Pensando bem, é bem justo!
Capítulo 11 - O anjo e o demônio da minha cabeça discutindo:
"Justo? Você é bem corno!"
Eu dei uma de "compreensivo" e tentei esquecer Lina, quando a noite
caiu, eu adormeci (Hum! Uma bela expressão! "O cair da noite",
tá vendo! Quem disse que meu livro também não é
cultura!). Eu tive 3 sonhos muito bizarros, apenas o último me chamou
a atenção; eu tava numa mesa de bar bebendo um uísque,
o comercial do uísque era; "Uísque Uinferno, é mais
quente que o próprio inferno!", realmente, o comercial era uma droga!
Depois de ter falado isso, duas pessoas se aproximaram de mim, a primeira que
se aproximou foi uma mulher loira, vestia um vestido de decote bem baixo completamente
vermelho, a segunda era uma mulher morena que vestia um vestido de decote todo
branco -Só nos meus sonhos mesmo, o anjo e o diabo são uns puta
mulherão!- pensei eu, e aí elas leram meu pensamento e retrucaram:
-Só na vida real que temos um cara tão corno! -eu me perguntava
"Por quê elas falam isso?" e elas respondiam:
-Por quê você é!
-Ei! -eu disse já aborrecido -Esse não seria, por acaso, um daqueles
sonhos clichês onde temos o anjo e o diabo lutando por me fazer optar
por um lado?
-Lado? Optar por um lado? Que lado, meu filho? Você não tem um
lado! Deixou Lina escorrer por suas mãos, se fosse para optar por um
lado, o seu seria o lado dos cornos! -falaram as duas em coro.
-Ei, peraí! Eu exijo respeito! Pois a decisão tomada por mim e
Lina foi bem justa! Vocês não têm esse direito de falar isso!
-Justo? Você é bem corno! Nós temos esse direito sim! Você
é corno e acabou!
-Você, anjo! Não deveria estar me defendendo como na maioria dos
sonhos de anjo e diabo, me guiando pro lado certo?
-Hein? Corno não tem lado certo! Ou vira homem ou continua corno! E mais
uma coisa, eu não ajudo pessoas fracassadas! Você guiou sua vida
direto pro fracasso! Imagina, uma linda garota com olhos verdes bem vivos, boca
linda e bem feita, corpo magro preciso, ela é mais anjo que eu!
-É, eu não tinha pensado nisso! Eu vou voltar com ela. É
isso eu vou voltar com ela!
-Hahahahahahahaha! Seu fracassado! Você não voltaria com ela nem
se quisesse! Ela já deve estar com outro! Tchau! -então apareceu
uma válvula (parecida com aquelas de descarga) e minha cadeira virou
uma descarga gigante que me arrastou para fora do bar. Assim eu caí no
esgoto cheio de bosta de cachorro com Lina me olhando e dando risada... Eu
acordei, mas as risadas continuaram ecoando pelas paredes do meu quarto. Que
sonho estranho, cara!
Capítulo 12 - Reconciliação?
Após Lina ter me deixado (o quê foi muito rápido e inesperado),
eu fiquei meio aborrecido e não saí da cama por dois dias. Após
ter passado este tempo, fui até a casa da minha ex para pedir desculpas
(não sei pelo quê, mas tudo bem), toquei a campainha e fiquei esperando,
esperando, esperando, esperando...
Capítulo 13 - Esperando esperar a esperançosa esperança
esperada pelas pessoas que esperam
...esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando,
esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando, esperando
até que... Choveu.
Capítulo 14 - A carta que nunca teve remetente
Não pensem que foi aquela chuva que aparece em todos os filmes e livros,
aonde ela vem garoando até acabar sutilmente, é aquela chuva que
mata rato de esgoto, afogado!
Eu esperei mais um pouco pensando que eles sentiriam pena de mim e me deixariam
entrar, deixaram nada! Na época eu gostava de andar com aqueles blocos
de notas e caneta, então eu escrevi um bilhete para Lina que dizia o
seguinte:
Querida Lina,
Você me deixou por algo que eu não tinha feito e agora não
quer voltar para mim, eu não entendo, pois aquilo que eu gritei foi uma
mera obra do acaso que me fez delirar sobre algumas coisas bem tristes. Espero
que você me entenda pelo que fiz e, algum dia talvez, possamos voltar
ao passado...
Com muito amor e carinho,
O único cara que te ama e que faria qualquer coisa por você.
Esta seria, talvez, a última vez que eu seria visto em frente à
casa de Lina...
Capítulo 15 - Doente e sozinho
Após esta separação que eu não entendi (me desculpem
por ter enganado vocês, dizendo que foi justa a nossa separação)
muito bem, voltei para minha casa e peguei todas as minhas roupas e dinheiro
que eu vinha guardando desde 1998 (que somava mais ou menos R$2.000 reais),
enquanto terminava de colocar minhas coisas numa mala minha mãe entrou
no quarto:
-Aleluia! Você vai sair de casa?
-Vou! Eu tenho até que um bom dinheiro para ir embora...
-E qual é o motivo da sua saída tão repentina, posso saber?
-Eu cansei desta cidade! Tudo não se resume a nada! Você estuda
uma década para depois não saber o quê quer da vida!
-Hahahahahahaha -ela tinha dado novamente aquela risada espalhafatosa, no momento
eu odiei -Mas que papo de adolescente querendo ser independente!
-É pode ser! Você não liga mesmo, não é? Queria
que eu fosse embora o quanto antes de casa! Acha que eu sou uma maldita aberração!
Eu sou uma aberração para você! Nunca quis que eu fosse
feliz! Achava que só por que você não foi, eu não
devia ser! Não é! Hein? Responda! -foi então que eu percebi
que ela estava chorando, depois de um tempo ela gritou:
-É ISSO MESMO! É ISSO! SEU GRANDE MOLEQUE CHORÃO! ACHA
QUE EU QUIS QUE VOCÊ NASCESSE? NÃO, VOCÊ FOI O ÚNICO
MOTIVO DE EU TER ARRUINADO A MINHA VIDA!
-Ah, mãe se você soubesse! Você não sabe qual foi
o motivo de ter ficado aqui até os 18!
-Eu não me importo! Seu grande bastardo! -estas palavras tinham me acertado
em cheio no coração, então eu disse as últimas palavras
antes de bater a porta na cara dela:
-Eu fiquei estes últimos anos aqui em casa por quê eu achava que
você me amava! Eu te amo, mãe, eu te amo! -ela me olhou com pena
e apenas ficou calada. Eu saí da casa e olhei o terreno baldio que antes
era um laguinho, chorei, fui caminhando sem rumo enquanto a chuva caía...
Tinha perdido tudo mesmo! Lina foi-se e agora... Pela estrada eu vou afora...
Capítulo 16 - Doente, sozinho e cansado
Fui apenas vagando, até chegar perto da marginal Tietê, a chuva
caía sem sofrimento e sem angústia, apenas caía. Andei
tanto que chegou uma hora que fiquei extremamente cansado, a alça da
minha mala estourou e eu caí na lama. Enquanto estava ali, sentindo um
odor fétido e grotesco, fiquei pensando se aquele era meu fim... Mas
vaso ruim não quebra...
Capítulo 17 - Vaso ruim não quebra, com toda certeza!
-Ei, acorde! Acorde! -eu acordei numa maca e uma mulher aparentando ter 20
anos me atendeu, tinha olhos pretos, era magra, cabelo preto e tinha um rosto
muito bonito:
-Onde estou?
-Está no hospital, por sorte uma ambulância te encontrou perto
de Guarulhos!
-Estou em... Guarulhos?
-Sim, seu dinheiro está no seu bolso, eles apenas te resgataram pelo
dinheiro, ou você acha que existem pessoas boazinhas?
-Não, eu não acredito mais nisso... -então eu adormeci
mais uma vez... Quando acordei estava numa enfermaria, deitado e meio tonto,
um médico entrou:
-Bom dia, senhor? -quis ele saber meu nome
-Lucas!
-Sim! Bem, você por sorte foi acolhido por nossa ambulância, mas
nós não achamos nenhum parente seu? O senhor está sozinho?
-Sim eu viajei sozinho. -então a mesma mulher entrou:
-Esta é a enfermeira Joana, ela que pôs você na maca.
-Olá, qual é o seu nome? -disse ela gentilmente.
-Lucas. Lucas Borges.
-Muito prazer, senhor Lucas! -disse ela elegantemente.
-O prazer é todo meu! -depois de alguns dias eu fui conversando mais
e mais com Joana, e descobri que ela não era casada, não tinha
filhos, morava num apartamento onde sua amiga tinha saído e agora ela
não tinha quem ajuda-la a pagar as contas, ela perguntou se eu tinha
onde ficar, eu respondi que não. Depois que eu recebi alta lá
do médico, Joana tinha tirado um dia de folga, eu fui até o apartamento
dela e ela me recebeu, a partir dali começamos uma amizade...
Capítulo 18 - Um lugar pra ficar, seria eu um cara de sorte?
Naquele mesmo dia Joana perguntou se eu não queria morar com ela (é
claro que ela ficou meio envergonhada em perguntar isso e eu fiquei envergonhado
ao responder!) e eu respondi que...
Sim! Eu efetuei o primeiro pagamento do aluguel (pouco mais que R$200 reais)
e o restante você sabe a seguir.
Capítulo 19 - Um emprego que me traz calma
Tem gente que reclama de emprego em Guarulhos, mas eu não achei nenhuma
dificuldade! Trabalhei como escrivão num distrito policial, ganhava pouco
mais que 300 reais, era suficiente para pagar uma parte do aluguel e morar com
Joana me trazia alegria (embora eu não parasse de pensar em Lina), todo
dia era uma nova coisa a escrever, por exemplo, você nunca saberia como
uma mulher matou seu marido usando apenas uma faca que corta bolo! O emprego
me acalmava, pois onde eu escrevia tinha uma janela onde batia o sol e como
meu trabalho era quando a tarde caía, eu podia ver uma das melhores obras
de Deus; o sol a se pôr! Não, eu não sou um cara religioso,
apenas usei isso para descrever que é algo bom, entendeu? E mais, quando
o turno de Joana acabava lá no hospital, ela vinha me buscar, sempre
batendo na janela, ela entrava no distrito e os policiais tudo me zoando, só
por quê ela me puxava para ir embora... Realmente, aqueles anos foram
melhores que os anos do laguinho!
Capítulo 20 - Uma confissão que há muito não se
via
Certo dia, enquanto íamos embora (e já começava a escurecer),
percebi que Joana estava louca para chegar em casa, então ela puxou conversa
enquanto andávamos:
-Ei, Lucas, você me vê como uma mulher? -eu comecei a rir para não
ficar vermelho, me fiz de desentendido:
-O quê?
-É, eu só queria saber se você me vê como uma mulher,
ou apenas como uma amiga? -disse ela com seu jeito de criança.
-Por quê a pergunta? -ela então se aproximou, me empurrou contra
a parede e me beijou, desta vez não fiquei a olhar besouros, baratas
ou formigas, apenas a beijei. Chegando em casa eu perdi minha virgindade, poderia
até falar como foi, mas não. Eu prefiro que você fique a
imaginar, como é quando duas pessoas se amam. É algo concreto,
é algo além de uma simples existência arrasada por drogas,
depressão e fuga da realidade.
Capítulo 21 - O porquê de minha existência (ou apenas para
que vivo)
Antigamente eu vivia para os estudos, quando comecei a chegar perto de sair
do colégio não tinha nada mais a fazer (lembra-se do quê
disse?), antes do colégio vivia para meus amigos e para minha mãe,
brincadeiras no laguinho eram quase todos os dias. Quando completei 18, eu já
tinha saído do colégio e comecei a me fechar num mundo imaginário
de sonhos "rock n' roll", expectativas altas na adolescência,
amigos que prezavam a lealdade e dependência da responsabilidade. Foi
quando eu conheci Lina e aí comecei a achar que estava apaixonado, mas
não passou de pura baboseira sentimental e adolescente. O mundo é
agora leitor! Eu, após quase morrer na Dutra, fui salvo por uma ambulância
que queria apenas me tratar e depois cobrar uma grana alta.
O mundo muda a cada passo que você dá para voltar para casa, a
cada minuto que você gasta ouvindo música ou jogando videogame,
a cada segundo que você usa para piscar. Tudo se envolve num bolo de sentimentos
inexplicáveis que você vive e acaba por esquecer... Você
me pergunta por quê eu comecei a falar disso, não é? Não,
eu não bolarei outro capítulo para explicar o motivo deste, nem
tudo precisa ter motivo na vida... Nem tudo...
Capítulo 22 - Nem sempre há motivo para o quê se acontece
A minha vida foi ficando perfeita, eu e Joana fazíamos planos para
o futuro; queríamos ter uma casa, um cachorro (tínhamos até
um nome para ele!) e até pensávamos em ter um filho! Mas por enquanto,
eu e ela falávamos, vamos continuar vivendo! Eu então a beijava
e ela colocava o uniforme de enfermeira, fingia que saía para o trabalho,
mas depois voltava correndo e me dava um beijo! Depois de tanta brincadeira,
enfim ia pro trabalho...
Eu ficava vendo televisão (sem nenhum motivo aparente, odiava tv!), depois
quando dava 12:00 horas eu saía, trancava tudo e ia pro trabalho. A caminho
do trabalho notei numa igreja (o nome não sei, só sei que fica
perto de uma praça) um cartaz colado e nele mostrava uma cara assustadora
de um homem (aquelas feitas em computador), mais um assassino estava por aí
fazendo a festa e a polícia não fazia nada, era incrível!
Eu não me importei, pois mais cedo ou mais tarde a polícia pegava
e descia a porrada no desgraçado! Logo, segui para o trabalho, fazia
um calor lá fora, mas no distrito tinha ventilador.
-Mais um dia de trabalho feito! Cadê a Joana? Vai ver ela precisa fazer
hora extra! Então, eu vou me indo, tchau gente!
-Tchau, Lucas! -diziam vários policias em coro. Voltei para casa, tomei
banho e então esperei, esperei, esperei...
Capítulo 23 - Esperando que nada tivesse acontecido
Então eu me lembrei do assassino que estava solto e atacava mulheres
jovens! Comecei a ficar preocupado, apenas pensando nas piores coisas já
imagináveis, o telefone então toca...
Capítulo 24 - O telefone que cria esperanças
-Oi meu amor! Olha, eu vou ter que ficar aqui até amanhã e não
vou poder passar aí em casa, tá bom?
-Tá apenas tenha cuidado quando vier para casa, tem um assassino a solta!
-Eu ouvi falar! E ele ataca só mulheres bonitas não precisa se
preocupar comigo.
-Não brinca Joana. É sério! Venha acompanhada ou pegue
um táxi!
-Tá bom! Eu tenho que ir, te amo muito!
-Tchau, também tenho que ir! Te amo! -então eu coloquei o telefone
no gancho e dormi...
Capítulo 25 - Horas extras e mais horas extras...
Chegando no trabalho meu chefe disse que eu teria que ficar até tarde
arquivando casos novos que apareceram e já foram solucionados, inclusive
o do assassino que já tinha sido capturado. Eu pensei comigo - "Graças
a Deus!" -e então fiquei até tarde (até as 23 horas)
trabalhando, quando estava saindo, meu chefe me chamou:
-Ei! Lucas, falta o do assassino em série para terminar! Você precisa
fazer este! -eu então peguei um folha e fui escrevendo...
Capítulo 26 - O atestado
Eu tinha um único problema, não sabia o quê estava escrevendo
até ler depois de digitar, então eu fui começando:
José Gimério da Conceição, nascido no dia 23
de setembro de 1964, foi morto após cinco tiros de bala calibre 38 terem
atingido suas costas. Ele foi pego enquanto tentava estuprar uma jovem. Infelizmente
uma das cinco balas acertou em cheio o pescoço da vítima, que
viria a morrer segundo depois. "A vítima era enfermeira e voltava
do trabalho após fazer hora extra" -declara o médico do hospital.
Joana Nóbrega de Souza tinha apenas 23 anos de idade.
-Pronto Senhor, eu vou ler para ver se não ficou com nenhum erro de
português e já vou embora, minha namorada já deve estar
preocupada...
Capítulo 27 - Palavras duras de serem lidas
-Nãoooooooo! Nãoooooooo! É impossível! Seus desgraçados!
- eu comecei a gritar e o chefe me perguntou por quê eu tinha começado
a gritar, eu lhe respondi e ele ficou calado e apenas me abraçou...
Capítulo 28 - E o quê vem depois?
Gostaria que você me dissesse! Após ter ganhado muito em poucas
semanas, perdi tudo em dias. Não fui ao enterro de Joana, não
fui ver o corpo dela, parei de trabalhar e fiquei vagando novamente. Dizem que
ninguém foi ao enterro, dizem também que ela era órfã,
eu não acredito em nada disso, pois me falaram que o psicopata tinha
sido preso! Ele foi preso morto, mas também me tirou a vida!
Capítulo 29 - Sozinho, cansado (de viver), faminto, sem vida e vagabundeando
pelo mundo
Eu sabia que ninguém gostava de mim, sabia que todos me abandonariam,
nunca mais vi minha mãe, Lina agora era corretora de imóveis (mas
não era casada), Joana era um corpo sem alma (assim como eu). Depois
comecei a ficar sem comer, nem falava mais, não cuidava da higiene pessoal
e num lindo dia eu comecei a ter delírios...
Capítulo 30 - Delírios pessoais
Joana entrou pela casa alegre e cheia de paixão, ela pediu para segui-la,
eu fui, afinal, o quê eu tinha a perder? Ela me levou até o rio
Tietê, o cheiro não era tão bom, mas e daí? Eu não
ligo, só queria estar com ela! Quando me aproximei do rio avistei minha
mãe fazendo um churrasco perto do laguinho na nossa casa, lá estava
a Joana jogando água em Lina, ela pediu para eu entrar com elas, e é
claro que eu aceitei! Afinal, minhas amadas estavam lá! Foi um dia ótimo...
Capítulo 31 - Um corpo no Tietê
Hoje foi achado um corpo no Tietê, tudo leva a crer que ele estava
bêbado e tentou se matar... É triste como estas pessoas acabam
com suas vidas apenas pela bebida! Tem tanta gente querendo viver e um sujeito
vai lá e destrói sua vida! É muito triste...
Capítulo 32 - Palavras antes de ir embora?
Antes de ir embora queria dizer que não queria que tudo tivesse terminado
assim, poderia ter arrombado a casa de Lina para ela me querer de volta, mas
não tive coragem, dez anos se passaram desde quando saí de casa,
minha mãe já deve estar morta, se não estiver espero que
ela venha para o meu lado. Ah! Joana está aqui, não é a
mesma coisa, é claro! Mas nós nos divertimos bastante! Eu antes
de ir (tá no capítulo) queria falar pra você calcular a
sua vida, eu, não tive tempo! Sinto muito se fui duro em alguma parte
da escrita, mas, é a vida ou talvez a morte! Não queria que tivesse
sido assim... Minha vida não foi atormentada, mas teve seus altos e baixos!
Eu espero que todas as pessoas que me amaram venham continuar me amando aqui.
Morte prematura? Eu não chamaria assim, nunca bebi, nem usei drogas para
morrer rápido, eu vivi a vida até não dar mais apenas isso.
Eu... Espero... Que... Você... Se... Cuide... Só isso!
Epílogo - Uma carta entregue e a cidade mentirosa
Lina acordou com o sol seco e frio batendo no seu olho esquerdo, hoje estava
disposta a saber por onde Lucas andava, soube através de um médico
(muito amigo seu) que ele tinha se mudado para Guarulhos, ela foi até
lá, e soube onde ele morava; era um apartamento pequeno, mas bem cuidado,
então ela tocou a campainha e um senhor velho atendeu:
-Bom dia, eu procuro por Lucas Borges, o senhor conhece?
-Ele morreu senhora! Não ficou sabendo? Um psicopata matou a mulher dele
e ele se afogou no Tietê por causa da bebida! Eu moro aqui apenas pelo
preço.
-Muito obrigada! -ela saiu correndo chorando e deixou cair um bilhete, o velho
pegou o bilhete, leu, achou uma bobagem e jogou no lixo. O bilhete apenas continha
algumas palavras, que diziam:
"Sim, Lucas, eu entendo sua situação e por isso eu te
amo! Nunca mais quero me separar de você!"