A Garganta da Serpente
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Mente
(Livro 1 - Manifesto das Sombras)

(Victor Menegatti)

Nota do escritor - Você é o quê a sociedade te faz refletir

Oi! Estou aqui mais uma vez escrevendo, desta vez não trago outro complemento da série A Situação, trago algo novo (pelo menos não é nenhum conto A Situação!) e espero que alguém goste...
Como algumas pessoas não leram minhas outras estórias já vou avisando, não escrevo com tanta alegria, paixão e desejo de viver como outras pessoas, escrevo apenas conduzindo o leitor para o final sem me preocupar muito para o quê todos sentem (eu acho que é por isso que dá "meio" certo, pois se eu fosse me preocupar antes , com toda certeza mudaria o roteiro de minhas viagens!).
Agora eu irei falar do livro, ah! Quer saber de uma coisa? Leia e me mande um e-mail ! Sua opinião é muito importante! Não se preocupe, após lê-lo você entenderá a frase da nota do escritor, eu garanto...


Prólogo - O quê se vê na escuridão?

- Não! Me deixe em paz! -um grito como esse ecoôu no ar, aparentava ser uma voz feminina jovem, jovem até demais... Segundos depois uma poça d'água foi pisado por saltos branco feito de camurça, que agora não eram tão brancos. Dava para perceber que era ela a dona da voz; uma garota que aparentava 16 anos, morena dos olhos verdes e cabelo escuro entrou no beco que alumiava uma pequena parcela do quê vinha ao seu encontro... Um vulto tão escuro quanto o próprio beco.
- Não se aproxime ou eu vou machucar você! Não, pára com isso, não! Por favor, não! -neste instante tudo silenciou-se e apenas deu para ver os saltos brancos que agora estavam completamente manchados de vermelho, um vermelho que, acreditem, custou a sair...

- Maurício! Acorda garoto, olha que você vai se atrasar pro trabalho! Vai logo! -disse uma voz materna
- Já tô indo! -se vocês estão me vendo é por quê eu ainda estou vivo, meu nome é Maurício Barros e trabalho num supermercado perto da minha casa. No momento tenho 17 anos e tô no terceiro colegial. Minha perspectiva sobre o futuro? Bom, eu tenho muitos planos! Penso em abrir uma clínica veterinária para poder cuidar de muitos animais, sempre gostei de animais! Minha mãe tem um rancho e cuida muito bem dele. Minha vida é muito boa, não tenho do quê reclamar, trabalho de manhã e estudo a tarde, agora tô indo trabalhar, afinal, eu sou um homem trabalhador!
Acredito em Deus e no poder que ele emana, não tenho namorada e é por isso que sigo Deus, acho que as pessoas precisam de um guia para chegarem a um estágio de vida mais avançado. Escuridão? Não, eu não gosto da escuridão, não sou um daqueles garotos que se veste de preto, pra começar, não jogo videogame, não jogo rpg e não ouço metal, sou apenas um garoto meio religioso, mas tudo bem, isso não é motivo pra se ter vergonha.
Amigos? Ah! Sim, eu tenho muitos amigos, o Joca é o meu melhor amigo e a Elisa é minha melhor amiga. Eu penso que se você não tem amigos você não viveu! Neste momento estou saindo do trabalho e como hoje não tem aula eu vou ficar em casa cuidando do meu cachorro...


Capítulo 1 - Linhas Disformes

"Hoje foi encontrado o corpo de uma menina aparentando 17 anos. Ana Aparecida foi encontrada morta num beco próximo a uma cervejaria, em seu corpo tinham seis cortes feitos com um serrote, o pescoço também foi cortado. Os pais neste momento estão em estado de choque..."

-Você tá vendo estes programas de novo, Maurício?
-Ah! Mãe, não tem nada pra ver!
-Então vai dormir, melhor que ver essas porcariada!
-Mas é legal, o apresentador fica gritando sobre nossa juventude perdida, enquanto que o corpo da menina fica estampado num telão.
-Como você é imaturo! Vai dormir, vai!
-Tá bom! -então Maurício desligou a tv e ficou vendo o escuro dar formato a sua imaginação, o corpo da menina começou a pairar e a dançar no ar, enquanto ele fechava os olhos por completo...

Andando, Maurício avistou uma sala com uma lareira e uma cadeira de balanço, que fazia um som terrível, nesta cadeira dava para ver apenas um vulto com cabelos negros a se balançar. Na medida que Maurício se aproximava o ser ia se levantando, no momento que o vulto se levantou bruscamente, nada mais veio em sua cabeça, apenas um forte desejo de não esperar o quê iria acontecer, então ele subiu as escadas e achou um quarto escuro. Apalpando o quarto achou uma cama e, sem maiores devaneios, entrou rapidamente nela olhando para fora do quarto, rezando para que aquilo não o visse. Depois de algum tempo a escada começou a ranger e lá fora Maurício viu uma luz, que parecia provir de um lampião, começar a se aproximar do seu quarto, mas nada aconteceu, o vulto ficou parado na porta e Maurício ali, escondido nas cobertas. O vulto começou a fazer um barulho, parecia ser de várias mulheres chorando, e ficou bem na frente da cama. Maurício, não aguentando de tanta curiosidade, abriu um pouquinho as cobertas para que apenas um de seus olhos pudesse espiar o ser que estava ali, em sua frente, deu pra ver apenas os cortes que ainda sangravam...

Então Maurício acordou no meio da noite e ficou vendo a escuridão se aprofundar sobre seu quarto, até que entrou em outro complicado sono...

Maurício caminhou pelo assoalho de madeira que fazia um som grotesco e velho, subiu a escada, que também era de madeira, e entrou no quarto que apenas tinha uma vela , olhando adentro do quarto, notou que tinha uma menina com um véu branco, estava de joelhos rezando. Após algum tempo ele saiu do quarto e foi para o corredor escuro, viu novamente o vulto com um lampião subindo as escadas rapidamente, enquanto fazia um som que parecia ser de uma menina chorando. Amedrontado, Maurício correu para um local que parecia ser um banheiro, lavou o rosto querendo acordar, pegou uma toalha e enxugou a água. O barulho do vulto novamente voltou e Maurício se escondeu no box do banheiro e ficou esperando, o barulho parou e deu apenas para ver no espelho uma menina sem olhos chorando sangue. Maurício tentou gritar e correr, mas seus pés não saíam do chão, a menina se aproximava cada vez mais do box...

- Meu filho, você vai chegar tarde no trabalho! - Maurício acordou suado e com um olhar fixado na parede, sabia que não era um simples sonho.


Capítulo 2 - Pra você é um jogo?

Decidiu não ir ao trabalho, resolveu ir à casa de Joca. Joca era um garoto baixinho, um tanto quanto gordo, loiro e muito amigável, não gostava de brigas e nem de desunião entre seus colegas.
- E aí Maurício, entra logo cara!
- Valeu!
- Ah! A Elisa tá lá em cima jogando videogame. - Maurício sabia que Elisa adorava jogar e era diferente de todas as meninas, além de ser linda, era muito legal e romântica.
- Você ficou sabendo daquela menina? - disse Maurício, num tom lúgubre.
- Fiquei cara, mó da hora! Mostraram até o corpo dela pelada!
- Meu! Como você é idiota, a menina morreu e você tá aí, ficando excitado com isso! - disse uma voz feminina irritada que entrou irrompendo sala afora. Era Elisa.
- É brincadeira dele, Elisa!
- É, sei.
- É verdade! Ninguém pode ser tão mórbido assim, certo, Joca?
- Eh? Claro! - então os três riram e ficaram conversando. Elisa falou por um tempo, mas depois se calou, estava notavelmente apaixonada por Maurício...
Depois de um certo tempo eles voltaram a falar sobre o assassino:
- Quem vocês acham que é o assassino? - disse Joca, num estado extremo de excitação.
-Poderia ser o professor de Inglês, ele é meio esquisitão! - disse Elisa.
- É mesmo! Ei, Maurício! O quê você tem, cara?
- Eu tive uns sonhos meio estranhos, só isso...
- Bem, sonho é sonho e realidade é realidade, não confunda as duas! - disse Elisa segurando a mão dele, algo que Joca tinha olhado.
- Uau! Isso foi profundo!
- Ah! Cala a boca Joca!
- Bom, eu preciso ir, tchau Joca e Elisa.
- Espera Maurício, eu vou com você! - disse Elisa quase correndo atrás dele.
- Tchau Joca. - disseram os dois.
Algum tempo depois eles andaram em direção à casa de Elisa, enquanto andavam começaram a conversar sobre as amizades que ambos tinham e os namoros e assim Maurício percebeu a beleza de Elisa; não era loira de olho azul ou morena dos olhos verdes, era morena com olhos pretos, apenas isso, simples.
E era isso que fazia Maurício gostar dela; a simplicidade que ela transformava numa beleza insuperável. Por onde ela passava dava para ver rastros de carinho e afeição. Quando os dois chegaram à casa de Elisa, as duas bocas foram se aproximando e... Ela correu para dentro de casa. Maurício ficou olhando para o nada, minutos depois contorceu a cara e saiu de lá furioso:
- Maldita! Ela só que me ferrar! Vagabunda! Acha que eu vou entrar em seus joguinhos amorosos!


Capítulo 3 - Feixes de luz

Maurício avistou uma casa muito parecida a de alguém que ele conhecia, feixes de luz ainda passavam pelas frestas da janela do andar de cima mostrando que alguém ainda estava acordado. Instantes depois o feixe de luz deixou de existir e, como que com um passe de mágica, Maurício entrou na casa. Era a mesma casa. Subindo a escada com cautela, o choro da menina voltou e Maurício não pensou em mais nada e correu para o quarto mais próximo, lá viu uma menina morena... Era Elisa!

Ele então acordou, pousou a mão sobre a cabeça suada e desmaiou.

Elisa estava dormindo profundamente, Maurício teve um forte impulso de beija-la,mas isso foi cortado pelo barulho de choro que se aproximava rapidamente, tão rápido que ele não notou o vulto atrás dele segurando um machado.
-Pára com isso! -Maurício se afastou do vulto, que ficou olhando para a menina que dormia.
-Não! Deixa ela em paz, sua coisa grotesca! -o vulto levantou o machado e Maurício gritou, mas Elisa já não ouvia mais, o machado estava encravado em sua face ensanguentada. O vulto se aproximou de Maurício, ficando cara a cara, ele ficou em estado de choque ao ver o rosto desfigurado de duas meninas; uma era Elisa e a outra estava colocando o dedo junto à boca em sinal de silêncio.


Mais uma vez ele acordou, só que desta vez saiu da cama e correu em direção à casa de Elisa, não podia ignorar aquele sonho. Correndo mais do que nunca, Maurício avistou a casa de Elisa com a porta aberta! Seu coração começou a explodir em raiva, então ele foi em direção ao quarto de Elisa, cautelosamente, abriu a porta e viu a tv dela ligada, seguindo adentro viu um machado encravado em algo que... Definitivamente não era madeira. Diante da situação, não aguentou e gritou quase entrando em choque, o grito acordou os pais da pobre menina, que, por sinal do acaso, vieram em direção ao quarto de Elisa, entrando lá a mãe de Elisa viu Maurício segurando o machado que saía com alguns fios de cabelo da menina.
-O quê você fez com minha filha? Desgraçado eu vou te matar!


Capítulo 4 - Fuja!

Maurício saiu pela janela e rolou telhado abaixo. Correu por sua vida e pela morte de Elisa, correu para não voltar nunca mais, penso em sua mãe, pensou em nunca mais ver Joca e nunca mais ver Elisa, pensou e não chegou a lugar melhor do que aquele que seus pés tinham apontado...


Capítulo 5 - "Anarquizado"

"Todo ser humano nasce anarquizado, mas quando cortam seu cordão umbilical ele é obrigado a seguir os padrões capitalistas, não venham me falar de punk's! Eles também são capitalistas. O corte do cordão umbilical é nosso transporte para o começo da sociedade, que mais tarde irá nos corromper. O quê? Você não pensa desse modo? Eu também não. Apenas falo coisas para os que querem ouvir. Eu não voltei para casa, agora é o segundo dia fora de casa e os pesadelos ainda me perseguem, acho que meu cordão umbilical não foi solto ainda! Acho que ainda eu não tive tempo pra isso, mas tudo bem, eu vivo agora à margem da sociedade! Tudo em que eu acreditava se foi e não dá tempo pra falar, quando você ficar do meu lado você saberá! Eu tive uma ideia muito boa..."

Maurício foi se aproximando de uma casa muito conhecida por ele, era uma casa que estava em sua memória há muito tempo, então sem muito a pensar foi entrando. Lá dentro viu Joca vendo tv e o mesmo vulto se aproximando, só que desta vez ele viu o vulto pegar Joca pelo pescoço e começar a espremê-lo, o sangue começou a sair da boca do menino, que foi jogado no sofá, morto. Maurício se jogou em cima do vulto que apenas deu um soco na boca dele e depois saiu com o mesmo choro...


Capítulo 6 - O sangue que pinga

Maurício não aguentou mais e correu em direção à casa de Joca. Chegando lá tocou a campainha e o garoto atendeu com um rosto alegre em ver o amigo desaparecido.
-Maurício! Entra, minha mãe saiu! Não se preocupe!
-Eu tenho que te contar algo!
-O quê? -perguntou Joca enquanto fazia o amigo entrar em casa.
-Não fui eu que matei Elisa!
-Eu confio em você, amigo!
-Tudo aconteceu tão rápido no meu sonho que eu...
-Maurício, acorda! Acorda, cara! Maurício!

-Se afaste de mim! - Maurício apenas ouvia vozes, enquanto estava deitado. Então avistou o vulto negro encapuzado avançando em direção a Joca, Maurício gritou o máximo que podia:
-Por quê quer me matar, Maurício? E por quê grita? -foi aí que Maurício viu uma faca em sua própria mão que reluzia a imagem de um ser com um capuz, jogado no chão com quatro facadas.
-Eu? Não, é mentira! Eu não quero te matar! Não é possível! -disse Maurício notavelmente perturbado.
-Calma, calma! Acabou, tudo acabou.
-Não, não acabou! Eu matei Elisa! Mas no sonho... Tudo era o vulto!
-Que vulto?
-Aquele jogado no chão... Cadê ele?
-Tudo bem Maurício. Está tudo bem.
-Não, não está! -então Maurício aproximou-se mais ainda de Joca, deu um beijo em sua face e enfiou a faca na própria barriga, apenas vendo o amigo sorrindo ao ver sua cara horrorizada. A última coisa que viu foi o sangue manchar seu tênis... O belo sangue que pingava sem parar...


Capítulo 7 - O corpo

-Você ficou sabendo de algo sobre seu amigo? Não minta para a polícia Joca!
-Bom, nunca mais eu ouvi falar dele, mas o quê eu posso dizer? Ele era um garoto complicado, tinha pesadelos que distorciam sua realidade, enfim, uma merda total! Falava sobre o corpo de uma menina que não parava de atormentá-lo, é claro que eu não dava ouvidos a ele. -uma voz entrou rasgando o silêncio:
-Senhor, o corpo do garoto foi encontrado com uma facada na barriga, dizem que foi suicídio.
-Certo! O quê mais poderia ser? O cara mata a namorada e depois se mata, já vi milhares de casos iguais a esse. O filho da puta joga videogame enquanto se droga até estourar a cabeça com tanta porcariada e depois se mata. Pode fechar o caso! Quanto a você, continue como você está e assim você seguirá bem, obrigado Joca!
-Até logo, manterei contato. -então os policiais saíram encarando o céu que se afogava numa manhã cinzenta.


Epílogo - Mente

"Aqui estou eu, Joca Ribeira, sobrevivente do ataque de um assassino, meu próprio amigo. Realmente, sua infância foi traumática, só podia ter dado nisso. Um dia desses, ele veio na minha casa querer falar comigo e com Elisa, estava visivelmente perturbado, e olha que ele nem era amigo nosso! A gente falava de vez em nunca com ele e então um dia ele aparece em casa e quer falar com a gente, vai entender. Elisa morreu, antes ela do que eu, não sou assassino e nem quero ser vítima, mas vai entender o quê passava na cabecinha de Maurício? Eu hein! Que Deus me proteja! Depois de tudo, eu ando tendo pesadelos novamente, o mais estranho é que os pesadelos que Maurício me contou são idênticos aos meus, mas que se dane! Vou colocar uma Santinha perto da minha cama e então eu dormirei bem..."

Oh! Deus que estás no trono dourado,
Durma do meu lado.
Oh! Deus que cuida de todos,
Não deixe o manifesto das sombras me levar ao poço.
Oh! Deus que cuidas de mim,
Cuida de meu corpo assim,
Mesmo sendo desmerecedor,
Dê-me seu louvor

FIM

Este conto é dedicado a pessoas que morreram, se mataram ou mataram sem motivo aparente.

If I were you, I'd better watch out.
When was the last time you did anything not for me or anyone else?
Just because... just because... yeah!
Oh, you really should have known.
Hey you, you really should have known.
Just because... just because...

Em memória de pessoas que escolheram outras para morrerem em seu lugar, parabéns, vocês ganharam o prêmio de covardia e deveriam ter morrido no lugar destas. Não falo de assassinos, falo da sociedade e aqueles que a governam. A sociedade é o remédio para quem é hipocondríaco, você deveria saber disso.

"O homem nasce bom, a sociedade o corrompe." -Rousseau

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