... pois não é o bastante ser mais um na multidão, por mais único que porventura seja, mas sim assistir a performance do ator pelo ângulo em que se pode ver o agonizante tremor de músculos que movimentam um corpo convertido em poesia, ângulo que apenas a obscura solidão das coxias pode proporcionar, microcosmo de estruturas, cabos, cordas, pesos e contrapesos, arquitetura da efemeridade do espetáculo que se desenrola. Não é suficiente acreditar em Deus ou deuses, mas sim desvendar a intrincada miríade do jogo consciente e inconsciente, coletivo ou pessoal, de onde nascem as divindades. Praticar Magia como o cientista desvenda os mistérios. Não basta conhecer pessoas, mas sim mergulhar em suas vidas, desvenda-las, compreender suas contradições, traumas, medos e dores. Que dizer do amor então? Que dizer do sexo? Até onde é possível chegar? Eterno explorador, incapaz - mesmo desejando - de permanecer na superfície das coisas (onde, aparentemente, é mais seguro) buscando sempre os recantos mais secretos e profundos, criatura abissal que jamais vem a superfície, nem mesmo para respirar... dissecando... remexendo... não suportando a ideia de que possam existir mistérios e segredos além de seu conhecimento, vampiro que seca e esgota a própria fonte de suas paixões, seus amores, suas conquistas, deixando escombros e restos mortais para trás e indo mais fundo... mais fundo... até que não reste mais nenhum mistério... ou beleza.