Ele a examinou, dissimulado. Ali, parada naquele hall, esperando o elevador,
ela era de uma fragilidade incrível. Mal aparentava os seus 18 anos.
Ele se aproximou, assim como quem não quer nada e posicionou-se atrás
dela.
Jovial e irreverente, ela se vira e diz: - Demora, né?
Sério, encara-a e apenas move a cabeça. Mas seus olhos de caçador
já haviam avaliado a presa.
Entram no elevador. Ele não consegue tirar os olhos daquela silhueta
esguia e firme. Advinha-lhe as formas sob o jeans apertado. Admira-lhe as curvas.
Perde-se nos ombros roliços. A camiseta de malha cruelmente colada ao
corpo revela seios arrogantes que despertam nele desejos de escalar montanhas
e picos. A garota não se dá conta da fúria que desperta.
Será que não?
Num dado momento, procurando alguma coisa na mochila, ela dá um passo
para trás e, sem querer, roça seu corpo no dele. A fragrância
que exala é perturbadora.
Um suor fino inunda-lhe o corpo. Ele recua. Olha para ela sorrateiro, quer adivinhar-lhe
intenções inimagináveis, mas o que vê é um
sorriso encantador.
Tantos anos de caça e... Uma simples menina... Estaria confundindo as
coisas?
Seu instinto reage. O espaço do elevador, de repente, torna-se pequeno
demais. O cheiro dela invade tudo e o deixa sem controle. Agarra-se à
pasta e ao casaco que carrega como se fossem escudos. Há muito tempo
não se sentia assim tão...perturbado.
O elevador pára. Alguém entra. O espaço fica menor ainda.
Ela dá outro passo atrás, corpo quase colado ao dele. Mas desta
vez ele não recua. Fica ali, firme, respiração curta, nó
da gravata sufocando. É um predador e fica de tocaia, vigiando a presa.
O elevador pára novamente e eles tornam a ficar sozinhos. Mas ninguém
se move. Um silêncio denso de ideias concretas enche o lugar.
De repente ela se vira e o encara.
Ele estremece. Onde estou com a cabeça? pensa. Desde quando fiquei assim
tão... vulnerável?
Ela o fita direto nos olhos e quase com candura, pergunta:
- Conhece algum professor de matemática?
O tom inocente é desmentido pelo arfar do peito e pelo olhar perturbador.
- Preciso urgente de algumas aulas, ela diz. Tenho prova na semana que vem.
Sem raciocinar direito ele se vê balbuciando: - Eu... no tempo da faculdade....
(Justo ele, que mal chegara perto de ter sido um aluno sofrível em matemática).
- Hum...hum..., ela responde.
A mentira o acalma um pouco.
- Terei imenso prazer em ajudá-la, murmura, já recuperado, devorando-a
com o olhar. - Quando?
- Pode ser agora, é meio urgente, diz ela, mordendo inocentemente a pontinha
da unha.
Mais do que ninguém ele sabia da urgência.
O elevador pára no andar dele. Descem. Ele abre a porta do apartamento
(onde nunca sequer um único livro de matemática entrara).
Ela se deixa conduzir.
Sorri.
Caça e caçador agora se confundem.
A porta se fecha. Hora da aula.