A Garganta da Serpente
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Diante da porta

(Umberto A. Geneolle)

Saiu do elevador e o corredor estava em trevas. Uma luz amarela, ao fundo, mal iluminava o ambiente. Apenas o som abafado do elevador zunindo denunciava a presença de vida por ali.

Olhou para os dois lados sem distinguir vivalma. Os conjuntos estavam submersos no mais completo silêncio.

Tateou a parede até tocar o interruptor próximo à porta, que acessava as escadas e os corredores interligando os andares.

A luz iluminou o tempo suficiente para que visse qual a porta que procurava.
O cheiro forte de temperos e alguns sons reduzidos a murmúrios eram as únicas companhias possíveis.

Empertigou-se diante da porta. Pigarreou levemente, para não despertar curiosidades eventuais. Aprumou-se, ajeitando algo que tirou do bolso interno do paletó.

Tocou a campainha, que ressoou como uma sirene absurdamente barulhenta.

Um filete sutil de suor escorria por sua têmpora. O cabelo revolto e cortado ao modo dos "marines" conferia-lhe um aspecto de estrangeiro. Os olhos eram azuis, porém sob aquela iluminação pareciam negros, sem vida, morbidamente sem vida.

Um barulho súbito na maçaneta. Alguém arrastando os pés sobre o assoalho. A maçaneta girou em falso.

À porta um sujeito atarracado, barba por fazer, semblante marcado por rugas e uma cicatriz, encarou o par de olhos negros.

- O que deseja?

- O Sr. é o Sr. Paulo Mello?

- E se fosse?

O outro perguntou novamente: - É o Sr. Paulo Mello?

O barbado fez menção de fechar a porta, mas foi impedido.

- O que é que você quer, moleque?

O de olhos azuis escuros fitou-o com frieza:

- Pelo visto é o próprio, eu imagino.

- Escute aqui, fedelho, eu.....

Mal teve tempo de dizer "três". Dois estampidos curtos se fizeram ouvir, como uma descarga de um cano pelas paredes do prédio velho e mal cheiroso.

O corpo curvou-se para a frente, retorceu-se no ar e foi de costas para o chão.

Os olhos dele fitavam o rapaz, que segurava uma pistola automática com silenciador.

- Lamento, mas não é nada pessoal.

Olhou ao redor. Os únicos sons que podia ouvir eram os que vinham de uma velha TV ligada na sala.

- Mas nunca mais me chame de moleque, ou fedelho....

Deu um sorriso para o homem caído, que de olhos vidrados ainda respirava.

Dois orifícios escurecidos brotavam do peito.

- Preciso fazer um serviço limpo - sussurrou, como se falasse consigo mesmo.

- Não posso permitir que você sobreviva.

Mirou na cabeça do homem e disparou.

- Lamento....senhor. Foram ordens que tive que cumprir. Não me leve a mal.

Empurrou o corpo caído para dentro, utilizando os próprios pés e fechou a porta por fora.

Retirou as luvas, meteu-as no bolso do paletó, perfilou-se, e desceu pelas escadas.

O único barulho que se ouvia era do elevador zunindo, como um inseto qualquer que procurasse uma saída sem encontrá-la.

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