Era uma vez uma linda família de gatos:
A mãe se chamava Agáta Colorida, uma gata muito carinhosa e obediente
que tinha muito amor pela sua dona Lili e pelos seus quatro lindos filhotinhos.
O filhote Marrom foi batizado Bombom,
A gatinha Amarela, era a doce Cinderela,
O Gatinho Listrado, era o gorducho Tigrado,
E o Gatinho todo Preto se chamava Zé!
- E porque Zé? Perguntavam curiosos os vizinhos e parentes, à
Dona Esmeralda, que era a mãe de Lili e dona do enorme casarão,
localizado na beira do Rio São Francisco, em Juazeiro,interior da Bahia.
E Dona Esmeralda explicava sempre cheia de sorrisos:
- O Gatinho todo preto tem esse nome graças as traquinagens de Lili,
que resolvera batizá-lo assim em homenagem a outro Zé, que é
o Senhor que cuida do Nosso quintal desde que Lili ainda estava na minha barriga.
Não é muito normal se colocar nome de gente em animais, mas o
mais importante nesse caso era o fato dos gatinhos passarem horas e horas do
seu dia brincando nesse imenso quintal cheio de frutas, onde Zé trabalhava.
Ele limpava as folhas das árvores que caíam ao chão enquanto
se divertia com as peraltices de Lili e sua turma de filhotes.
O outro lugar predileto dos filhotes e de Lili, era no sótão
daquele velho casarão. De lá dava para se observar toda a Cidade
de Juazeiro e quando chegava a noite, parecia que havia além de estrelas
no céu, estrelas no chão e na beira do rio, enchendo de luz as
noites do São Francisco.
Quando chovia, Dona Ágata colorida se deitava e se agarrava com todos
os seus filhotes, enquanto Lili contava as mais belas estórias dos livros
infantis, falando sempre do amor que se deve ter uns pelos outros e de igualdade
dos seus sentimentos por todos aqueles gatinhos. E só assim eles conseguiam
adormecer.
O Gatinho Bombom, que era o filhote marrom, era o mais comilão, adorava
beber leite, comer peixe e comer pão, além de roubar os pedaços
de carne, que vez por outra, Dona Esmeralda se esquecia no fogão.
O Gatinho Tigrado, que era o filhote Listrado, era o mais preguiçoso
e também o mais pesado, gostava de ficar no sofá esparramado,
comendo ração tipo light e vendo desenho animado.
Tinha uma almofada vermelha, que era a sua preferida. Ele, o Tigrado, parecia
entender perfeitamente o que se passava na TV, já que raramente saía
de frente da televisão, onde passava horas ao lado de dona Esmeralda.
A gatinha Amarela, a princesa Cinderela, era entre todas a mais bela, brincava
sempre com o seu novelo de lã rosa, e fazia questão de fazer carinho
em todos que puxassem prosa, ou nos amigos e parentes que viessem visitar Dona
Esmeralda. Era normal encontrá-la no colo de alguns dos vizinhos ou então
debaixo da saia das moças que ali chegavam pra tomar o chá das
seis.
O Gatinho todo preto, o nosso querido Zé, era sempre o mais esperto,
o mais veloz e o mais inteligente, quando vinham os desafios sempre era o mais
valente, só vivia pelas árvores, sempre brincando contente, ele
era tão esperto que alegrava a toda gente.
E eles assim viviam, contemplando a beleza da vida em família e desfrutando
de todo amor oferecido pelos pais de Lili.
Uivavam no telhado quando era lua cheia, parecia serenata feita meia noite e
meia. Os vizinhos demoraram para poder aceitar, mas depois de algum tempo pararam
de reclamar.
Um dia chegou na casa um homem vestido de terno, tinha em mente más
notícias, pois era acessor do inferno.
Com uma pasta cheia de dinheiro e uma caneta na mão, queria pra ele o
terreno e também o casarão, que ia ser destruído pela tal
transposição.
-Não!!!! Gritava Lili sem parar. Quando viu não mais ter
jeito, ela danou-se a chorar, o seu choro era tão alto que a fazia soluçar.
Mas não havia mais jeito, tava tudo decidido, o dinheiro na mão
de seu pai, o terreno já estava vendido.
Ela ainda não sabia o que estava pra acontecer, tinham planos de mudanças
no trabalho dos seus pais, que iam pra Salvador e não retornavam mais.
O pior de tudo isso, era esse o seu lamento, iam para a cidade grande viver
em apartamento e que a sua gataria não podia ir para lá, que achassem
logo alguém para os gatos adotar.
Depois de muitas lágrimas, era a hora de partir, de se despedir dos
gatos ou deixa-los por ali.
A dona Agáta Colorida foi doada, para uma família de padeiros,
só que não mais moraria com todos os seus herdeiros;
O gatinho Tigrado também logo foi doado, para um velho Artesão,
que cuidava muito dele e sempre lhe dava ração, também
tinha um sofá velho e tinha televisão, a TV era tão grande
que até parecia telão.
A gatinha Cinderela, foi doada para uma professora que era muito generosa e
como a gatinha gostava, deu-lhe um novelo rosa.
No seu carro conversível, já vai ela, para todos os lugares, ia
sempre a restaurantes, lanchonete e até ia para os bares.
Cinderela dentro dele, parecia uma rainha. Era só ligar o carro que ela
feliz já vinha.
Só Zé, o Gato Preto, que ninguém quis adotar, diziam que
ele era feio e também que dava azar. Ele como era esperto criou um plano
secreto e deciciu viajar. Pulou na mala do carro, para ir com Lili morar.
Só que quando em Salvador a família já chegava, ele ouviu
uma conversa entre os que estavam ali: Dona esmeralda, que falava com a filha
e com o pai de Lili.
Lili ainda chorava perguntando a razão, de não levar os seus filhotes,
se eram como família, se eram se eram todos irmãos.
Foi quando Dona Esmeralda falou:
- É que para onde nós vamos, animais são proibidos,
se descobrem qualquer bicho nós vamos ser perseguidos, nós vamos
perder a casa, você perde a sua escola, o seu pai perde o emprego e vamos
correr perigo, de ficar passando fome sem comida e sem abrigo.
Zé, o nosso gato, não queria que aquilo acontecesse com a família
de Lili e ouvindo o que dona Esmeralda acabara de dizer, decide abandonar o
carro e no primeiro posto descer.
Era um dia de verão e estava um imenso calor e Zé solto pelo
centro, nas ruas de Salvador. Achou que ia gostar de viver em liberdade, só
bastou alguns minutos pra ver logo a verdade.
Foi atropelado por um carro, chutado pelas crianças, tomou paulada dos
velhos, pedrada do segurança. Dormia agora na rua, com a companhia da
lua, sem ninguém para conversar, pensava a todo momento, em poder achar
um lar, mas em todo lugar que ele ia, diziam que dava azar.
Ele não tomava banho, estava todo imundo e não entendia porque
tanta injustiça no mundo. Já não tinha mais leite, nem
comida de ração, agora comia o resto que encontrava no lixão.
Ele uivava pra lua e dos seus irmãos lembrava, recordando também
das estórias que Lili, quando chovia contava, que dizia do amor e que
a cor não importava.
Zé percebia que não era bem assim, tinha que escapar da morte,
para não ser o seu fim. Ia virar churrasquinho na ladeira do Pelô,
ou ia virar um banquete do Pitbull do doutor,. E ainda correndo o risco de cair
na carrocinha, que já recolhia cães e gatos que dormiam na pracinha.
Até que um dia ele encontrou, um abrigo pra crianças, todas pretas
que nem ele; parecia mais de cem, ele então ficou contente, não
era mais diferente e a todos queria bem.
E ninguém por ali dizia que ele é quem dava azar, ficava quieto
ouvindo toda a galera brincar, cantava uivando pra lua e comia com a criançada,
brincava com água da chuva e dormia embaixo da escada.
Só que naquela noite, um desastre aconteceu, o fogo invadiu o abrigo
e todo mundo correu.
O fogo não demorou, a fumaça tomou conta, o fogo invadia o prédio,
quando o bombeiro chegou, já tinha criança tonta.
Os bombeiros fizeram esforços para controlar as chamas, e ainda pegar
as crianças, chorando embaixo das camas. Quanto mais tempo passava mais
perigo se corria, risco de desabamento, morte por asfixia.
Já estavam fora do prédio quando um miado se ouviu, era o miado
de Zé, que dali não mais saiu.
- Deixa esse gato morrer, não vale a pena salvar, é melhor
morrer um gato do que você se queimar, ainda mais que é preto,
e é preto que dá azar.
O Bombeiro então percebeu, Zé do lado de fora do quarto, miando
pra se acabar, sem querer sair dali e achando tudo estranho, ele resolveu, aquele
quarto invadir.
Haviam duas crianças desmaiadas lá no quarto, uma chamava João
outra também se chamava José, que graças a Zé foram
salvas, acreditem quem quiser.
O bombeiro emocionado falou na televisão, que foi por causa de um miado
que tomara a decisão e que havia sido o gato quem o ajudou na missão.
Zé então foi consagrado, virou capa de jornal, ganhou medalha
de ouro e nunca mais passou mal. Todos o admiravam por coragem e valentia, ainda
ficou conhecido com o herói da Bahia. A notícia correu mundo,
passou na televisão, ele agora era o herói de um filme de ação.
Recebeu até dinheiro vindo em forma de ração e o prefeito
disse que se achasse o dono ia ter premiação.
Lili, a dona de Zé, quando o viu reconheceu, só não sabia
explicar como ele apareceu. Então foi decidido depois disso por seus
pais, voltarem pra juazeiro e Salvador nunca mais.
Sabiam que era a hora de voltar pro interior, para reunir os gatinhos como tudo
começou.
E assim aconteceu, tudo no final deu certo, a família novamente pode
estar sempre por perto. Zé reuniu seus irmãos pra contar suas
façanhas, falando com sua mãe, confessava as artimanhas.
Passou fome, passou frio, e quase conheceu a morte, mas depois daquele incêndio,
agora era conhecido como Zé, "o gato preto da Sorte"
"Todos nós somos iguais, independente de cor, sexo, opção
sexual, ou credo religioso. Devemos amar uns aos outros e combater qualquer
tipo de intolerância"
(16/01/2007)