Este Natal seria diferente, pensou Tiago, ao amassar o nariz no vidro da janela. Na rua, pessoas corriam apressadas com sacolas de presentes. Algumas se empurravam na entrada do supermercado para garantir a ceia. Carros com motoristas impacientes buzinavam em meio a xingamentos.
Voltou a sentar-se diante do computador. Tímido e filho único de pais também filhos únicos, nem primos tinha o menino. Em casa, sempre os mesmos assuntos, negócios da empresa. Não era de agora que vinha pedindo um irmãozinho. "Talvez algum dia, filho...", enrolava a mãe.
Levantou-se entediado. Já era Natal e para a noite esperava o cumprimento de uma promessa. Não queria mais saber de jogos eletrônicos, nem de amigos virtuais.
Parou em frente ao espelho e pensou na proposta que fizera ao pai há um bom tempo. "É um irmãozinho ou um cachorro!". Tiago sorriu ao lembrar-se do quanto o pai detestava cachorros.
À noite, o jantar esteve impecável. Visita dos avós, toalha vermelha, frutas, brindes, castanhas. À espera do Papai Noel, o coração do menino batia forte e feliz. O relógio badalou doze vezes. Os presentes, sob a árvore, foram abertos, um após outro. Gravata para o pai. Chapéu. Porta-retrato. Anel para a mãe.
Nada de anúncio de irmãozinho. Impaciente, Tiago esfregava as mãos. Exigiria, pelo menos, o cachorro.
- E agora a grande surpresa. - A mãe alcançou a caixa.
- Eu tinha pedido um irmãozinho ou um cachorro, pai, lembra?
- Abre o pacote, filho!
Despido de emoção, o menino desembrulhou o papel de presente. As engrenagens saltaram para fora...
- É o que você pediu. Um cachorro, só que diferente. Este não faz xixi, nem perde pêlos. Mas, olha, ele dá a patinha e até late, faz cambalhotas e responde aos seus carinhos. Tenta passar a mão em suas costas!
O cachorro robô esfregou-se mecanicamente contra o tapete. Tiago apertou o nó na garganta e esboçou um desbotado sorriso amarelo.