A Garganta da Serpente
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O dia seguinte

(Simone Malaguti)

Ontem saiu. Queria se divertir. Hoje acordou numa cama nova, nunca vista antes. Aqueles lençóis tinham um odor desconhecido, estranho, distante... Quando ela abriu os olhos, deu de cara com ele, que a admirava dormindo e, agora, acordada. Ela ficou sem o que dizer, sentiu um certo desconforto e desamparo em acordar numa outra cama. Por alguns minutos, tentou ser natural, mas provavelmente não conseguiu e seu semblante de "susto" o surpreendeu. Ele disse: " Não se acanhe ! Fique à vontade ! Depois pegue meu roupão". Mas, ontem foi ontem, ela pensou. Pensou que o conhecesse e que, talvez o amasse ou que, pelo menos, um dia, viesse a amá-lo; mas, hoje nessa cama, após essa noite, essa única noite... tudo mudou... Foi tudo um acaso, um descuido. Ela queria amá-lo sim, queria, de verdade, do fundo do coração , mas não ia conseguir, ao menos que se esforçasse, ao menos que fingisse, tentasse... "Inútil se debater, querida," disse uma voz interna "cedo ou tarde, nos acostumados com a imprevisibilidade dos sentimentos, dos atos, dos fatos, das verdades e das mentiras. Hoje é com você, amanhã é com o outro. É, às vezes vemos a vida como ela é e nos confrontamos com a constatação de que andamos mesmo na corda-bamba e que aprendemos o tempo todo a nos equilibrar sobre ela linha que nos separa da vida e da morte." Ela fechou os olhos, apertou os lábios. Virou de lado, encolheu-se um pouco. Ele, boca entreaberta, olhos calmos, ele tão doce, continuo olhando-a; pois, afinal, ela voltaria a dormir.

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