A Garganta da Serpente
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Conto de Deus no Natal Brasileiro

(Silas Corrêa Leite)

Um dia Deus olhou para um determinado lugar do espaço infinital de sua visão angélica, e perguntou: - Que qué isso, Anjo Gabriel? O anjo escriba, saindo de sua pose de garbo, explicou: -É a passagem de ano, Senhor. Festa mais maior de grande. Então Deus, em sua santa pose, de presto comentou: -Que desperdício de energia, de bebidas, de comidas e de belezas despossuídas de propósito. Deus estava com o pavio curto a cismar toleimas. Tempos depois, o Criador sondou de novo o lugar, e indagou curioso para o Anjo de gabinete: -Que forfé é esse, Gabriel. -Carnaval, Senhor. É o tal do entrudo tropical lá deles, respondeu o anjo de gadelha lilás. Deus ficou encafifado.

Onde já se viu aquilo de infernal? Era muita Sodoma e Gomorra para um canto continental só. Ali havia risco diluvial, soberba, pensou. Mas não disse. E assim Deus foi indagando, de propósito, data após data, os guaiús todos, feriados, Copa do Mundo, Eleições, barulhanças e contentezas, daquele povo que se dizia cristão de meia pataca, mas também, num sincretismo dolente se cercava de velas, imagens, venerações idólatras e patuás hipócritas. Até que chegou um dezembro qualquer, no lumiar de uma nova aurora celeste, e Deus cobrou sobre a bagunça telúrica: -Que qué isso, companheiro? Então o Anjo Gabriel, mais por cortesia do que qualquer coisa, deitou falatório: -Ora, Chefe. Será o impossível? Tão comemorando de novo o seu "niver". Sabe como é, Natal é pressas coisas mesmo. Deus não perdeu tempo: - Mas isso é que é o Natal agora? Só por Deus, quero dizer, só por Mim. Porres homéricos, gula exacerbada, amigos secretos...sandices...consumismos...grifes...isso foi tudo o que restou da data magna do Cristianismo? Gabriel sondou Deus. O Número Um tava realmente beiçudo, de tromba. Frustrado. Onde já se viu aquilo? Então Gabriel, iluminado, soltou o verbo:

-Perdoa, Pai. Eles não sabem o que fazem!

Deus, olhando um berçário de estrelas num ponto infinito qualquer do espaço sideral, pensou a ideia de um milagre. Um novo milagre. Um novo José. Uma nova Maria. Talvez uma nova Belém e uma outra manjedoura. Um novo céu e uma nova terra. Estava escrito.

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